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segunda-feira, 6 de junho de 2016




A coxinha e a mortadela também têm história


Por Val Costa


Retrato de Dona Tereza Cristina, por José Correia Lima (1814-1857)


Os dois alimentos apresentados no título acima são consumidos diariamente por milhões de brasileiros. Entretanto, nos últimos meses, eles passaram a frequentar mais os noticiários políticos do que as colunas sobre culinária.
O termo “coxinha”, no contexto político, é usado para designar uma pessoa arrumadinha e conservadora. Ele passou a representar os manifestantes dos atos contra o Governo Dilma. São duas versões para essa associação. A primeira está relacionada aos policiais militares que estacionam seus carros em frente aos locais que comercializam coxinhas. A segunda relaciona-se aos homens ricos que utilizam bermudas mostrando as suas “coxinhas”.
No campo da culinária, a origem do salgado possui três explicações. No livro “Histórias e Receitas – Sabor, Tradição, Arte, Vida e Magia”, a autora Maria Nadir Cavazin afirma que a iguaria surgiu durante o período Imperial, no interior de São Paulo. A Princesa Isabel e o Conde D’Eu tinham um filho que morava na Fazenda Morro Azul, localizada em Limeira. O menino praticamente só comia coxas de frangos fritas, o que exigia uma grande quantidade dessa ave. Certa vez, a cozinheira percebeu que não havia número suficiente de frangos para o abate, resolveu então desfiar as carnes das aves disponíveis, dividindo-as em porções. Posteriormente, envolveu-as em uma massa feita de farinha de trigo, espetou cada porção em um osso de galinha e fritou. A segunda versão apóia-se no livro do chef Marie-Antoine Carême intitulado “L’Art de la Cuisine Française”, o qual afirma que esse quitute já existia na culinária francesa com o nome de croquettes de poulet (croquete de frango). A última explicação também remonta ao Brasil Império. Segundo Rogério da Silva Tjäder, autor do livro “Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança – A mãe dos brasileiros”, a coxinha surgiu quando o ainda príncipe D. Pedro de Alcântara chegou em casa e o frango frito havia acabado. A própria imperatriz teria ido para a cozinha, desfiado o peito de frango que sobrou e misturado o mesmo com uma massa de farinha de trigo. Depois modelou a massa em formato de pêra, espetou um osso e fritou.
O termo “mortadela”, dentro do contexto político, está associado ao lanche, geralmente pão com mortadela, que os militantes de esquerda pretensamente recebem nos atos pró-governo. O embutido, entretanto, originou-se em Bolonha, no ano de 1376. O alimento produzido com carne de bovinos, suínos e aves, além dos cubinhos de gordura, chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes italianos no início do século XX.
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quinta-feira, 2 de junho de 2016





* Texto originalmente publicado no Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá, maio de 2016.



Fonte: http://www.guiarioclaro.com.br/materia.htm?serial=151011337 (Baseada na Revolta Negra de Rio Claro em 1888).




A sociedade brasileira foi ensinada por décadas, na verdade, quase que por um século inteiro  que os negros e negras escravizadas foram libertados por uma ação bondosa da princesa Isabel. Assim, o 13 de maio de 1888 e aquilo que representou, a libertação do povo negro, só teria se dado graças a um surto de benevolência do Império (sustentado por décadas pelo suor e sangue daqueles) e das elites brasileiras. Para que houvesse tal desfecho, os próprios "escravos" teriam contribuído nada ou quase nada. Só lhes restando festejar a data e enaltecer pelo feito a “Princesa Redentora”. Nada mais falso.



Pesquisas recentes do campo da História do Brasil têm demonstrado que as lutas efetuadas pelo povo negro cumpriram papel importantíssimo no movimento de derrubada do regime escravocrata. Longe de terem assistido a tudo passivamente, como se apenas lhes restassem torcer pelo sucesso das lutas abolicionistas promovidas – em nome deles – por “homens livres” membros da elite branca, essas pessoas lutaram e sacudiram com o regime, e muito.


Em que pese as limitações e intensa opressão gerada pela condição escrava imposta pelo sistema da época, aqueles homens e mulheres foram agentes de sua própria história, seja fugindo, constituindo quilombos, boicotando ou sabotando a produção, recorrendo à Justiça. Ou seja, se rebelando de diversas maneiras contra aquela condição indigna.

Mas é certo também que tais atos de rebeldia se adensaram exatamente na década de 1880, o que explica em boa medida que a Abolição tenha se dado nesse período. A pressão exercida por aquele(a)s agentes tornava insuportável a manutenção daquele “odioso sistema”.

Foram, felizmente, anos difíceis para os “Senhores de terra e de gente”. Em boa parte do Brasil. Do Rio de Janeiro. Em Jacarepaguá. Ali teve luta, sim. Intensa e vitoriosa. Mais precisamente nas terras do Engenho Novo, nas terras onde hoje funciona a Colônia Juliano Moreira.

Os Arcos da Juliano Moreira


Em 20 de dezembro de 1887, os trabalhadores escravizados dessa fazenda fizeram greve. Isso mesmo: greve! Motivo: estavam fartos de tantos maus-tratos. Assim cruzaram os braços, “visto lhes ser dada ração dobrada de açoites e muito minguada de alimentação”. E prossegue o Diário do Commércio (09/01/1888, p. 3) – jornal de onde extraímos a notícia desse magnífico evento: a greve foi levada por aqueles trabalhadores até o dia 29 daquele mês. E foi de tal vigor, que o “Comendador-proprietário” teve que fugir, até porque, diante de tanta afronta, acabou perdendo “amor aos belos ares da fazenda”.


Sede da antiga fazenda do Engenho Novo. Aqui se escondeu o comendador quando da eclosão da revolta.....
Fonte: http://portaldoarruda.blogspot.com.br/2011/01/juliano-moreira-o-pai-da-psiquiatria.html


Contudo, confirmando a sua índole covarde, o mesmo, durante a fuga, acionou a polícia, “solicitando força para prender dois dos revoltados”.  E então, o comendador-fujão teve que engolir outro revés: a força policial se negou a realizar a repressão desse movimento. Escreveu o Diário: “as praças recusaram-se desta vez ao mister de capitães de matto”.  

Vista do Morro Dois Irmãos, da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/10949077





Vista aérea da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=119896906


Os acontecimentos ocorridos nas terras do Engenho Novo (atual Colônia Juliano Moreira) são emblemáticos: a luta dos escravos era imparável. Ninguém podia mais conter, nem os “Senhores” da elite, mesmo com toda sua empáfia, barbárie, violência e poder. O sistema estava tão desgastado e carcomido, quem nem mesmo a polícia lhe reconhecia legitimidade. Nem ela!

Que acontecimentos. Eles foram, digo, são inspiradores.




Leonardo Soares dos Santos
Pesquisador do IHBAJA e professor de História da UFF (Campos)







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