Uma
excelente notícia para os moradores, estudiosos e professores que vivem,
pesquisam ou atuam na região da Baixada de Jacarepaguá. Foi lançado em julho o
livro “O asilo e a cidade”, coletânea de textos sobre a antiga Colônia Juliano
Moreira, sob a coordenação das pesquisadoras Ana Teresa Venancio e Gisélia
Franco Potengy.
São
ao todo nove capítulos, que abordam o mesmo tema sob pontos de vista
diferentes. No primeiro capítulo, o(a) leitor(a) tem a oportunidade de conhecer
a história da ocupação do antigo Sertão Carioca, com todos os conflitos a ela
inerentes, de autoria de Renato Dória (professor e pesquisador do IHBAJA). O
segundo capítulo nos oferece um rico painel da evolução urbana da Colônia,
produzido por Renato Gama-Rosa e Ana Paula Casassola Gonçalves. Em “E eu sei
doutor?”, capítulo escrito por Janis Cassília (outra professora e pesquisadora
do IHBAJA), temos uma excelente análise sobre a experiência da doença e as
falas de internos da Juliano Moreira durante a vigência do Estado Novo de
Getúlio Vargas. O quarto capítulo trata das memórias coletivas e identidades
sociais na história do Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios, trabalho esse
coletivo, concebido por Ana Venancio, Laurinda Rosa Maciel, Anna Beatriz de Sá
Almeida, Bruno Dellacort Zilli e Silvia Monnerat.
No
capítulo cinco, também construído coletivamente, Anna Beatriz, Ana Carolina de
Azevedo Guedes e Pedro Henrique Rodrigues Torres tratam da doença mental e da
tuberculose nas mulheres internas do mesmo Pavilhão, entre 1940 e 1973. No
capítulo seguinte, as práticas católicas na Colônia são estudadas por Sigrid
Hoppe, tendo por base a atuação da igreja da instituição e a festa de São
Cristóvão.
O
capítulo sete, de autoria de Renato Dória e Leonardo Soares (outro professor e
pesquisador do IHBAJA) resgata a história de Jacinto Luciano Moreira, cidadão
negro, médico da Colônia e militante do Partido Comunista do Brasil. Sua bela
trajetória, entre 1945 e 1962, se revela por meio da consulta de importante
conjunto de documentação do fundo da polícia política do Rio de Janeiro. O
oitavo capítulo também faz um mergulho na história e nos traz a história da
assistência psiquiátrica na instituição durante o governo JK, tema da pesquisa
de André Luiz de Carvalho Braga. O último texto é de autoria de Sigrid Hoppe e
Gisélia Potengy, que aparecem novamente para falar sobre a identidade e
apropriação do espaço no bairro Colônia.
As
várias pesquisas presentes no livro contaram com o financiamento da FAPERJ,
CNPq e Fiocruz. E os principais acervos de documentação usada por aquelas foram
encontradas no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) e no Núcleo
de Documentação e Pesquisa do Instituto Municipal de Assistência a Saúde
Juliano Moreira da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro
(IMASJM-SMS-RJ).
É um
motivo de orgulho para a sociedade civil da região contar com um estudo como
esse, de caráter multi-disciplinar, que ilumina tanto o passado como a
atualidade do território, expondo suas contradições, lutas, embates e triunfos,
de segmentos costumeiramente marginalizados (internos, “loucos”, pobres,
mulheres, negros, comunistas etc.). Conforme enfatizam as organizadoras do trabalho,
Ana Venancio e Gisélia Potengy, buscou-se “demonstrar várias formas sociais,
pelas quais a Colônia se fez presente na história da cidade do Rio de Janeiro:
como expressão de políticas públicas de saúde, das transformações urbanas do
espaço que ocupa, dos sujeitos que a constituíram e das representações em torno
da loucura que ali circularam.”
IHBAJA