Por Janis Cassilia
Pesquisadora do IHBAJA e professora
Mestre em História das Ciências e da Saúde
Colônia Juliano Moreira. Carros patrulhas da Polícia Federal e um Urucu
do exército chegam. Um grupo de servidores, médicos, líderes sindicais,
familiares e internos se reúnem em manifestação contra a posse do interventor
federal na direção da instituição. Câmeras
de TV registram o momento. Os repórteres entrevistam o assistente do ministro
da saúde que responde “que aparato policial?”. A repórter afirma “15 homens da
polícia federal!”. “Pode até aparecer mais” foi a resposta obtida.
Manifestantes contra a
intervenção federal na porta do Bloco da Administração da Colônia em maio de
1988. Eram médicos, funcionários, líderes sindicais, pacientes e familiares
fizeram uma manifestação pacífica. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do
documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4
Em 24 de maio de 1988, o movimento pela
reforma psiquiátrica ganhou força na Colônia, quando o Ministro da Saúde decidiu
intervir na direção das Instituições Psiquiátricas Federais. O movimento
denunciava as más condições das instalações psiquiátricas e as condições
desumanas aos quais estavam sujeitos doentes e funcionários. Porém, o governo, que
tinha acabado de sair de um período de ditadura e repressão, via neste
movimento um indício de desordem que precisava ser controlada.
Policiais Federais armados em
frente ao bloco sede da administração da Colônia Juliano Moreira. Imagem de
reportagem da TV Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano
Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4
O ano de 1988 foi conturbado no plano
político e na saúde. Uma greve geral dos funcionários da saúde federal levou 15
mil servidores a paralisarem suas atividades por 15 dias, inclusive na Colônia.
Além disso, acusações de desvio e corrupção dos diretores da Colônia e do
Hospital Pinel, e reportagens que “denunciavam” que as condições sub-humanas
continuavam a existir na Colônia, o que a tornou alvo da segunda intervenção
federal. O diretor foi afastado e um interventor escolhido para ocupar a
direção da instituição.
Reunião e debate durante a
manifestação em 1988. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do
documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4
Não foi à toa, que o Ministério da Saúde
destacou equipes da Polícia Federal e da Polícia Militar. Além de que um carro
de combate e o Delegado do DOPS também compareceram. Ainda que a
redemocratização estivesse acontecendo, velhas táticas de intimidação foram
utilizadas e escancaradas na imprensa. Os manifestantes não cederam e
resistiram pacificamente. Derrotado, o Ministério da Saúde postergou a posse do
interventor. No fim, o processo de transferência da Colônia para o do Governo
Estadual começou. E a presença do carro de combate blindado, diante de tão
pacífico, mas decidido grupo de manifestantes, levou as forças armadas a dar
explicações de que tudo não passou de uma “infeliz coincidência”.
Carro de combate chamado Urucu
fazendo manobras em frente ao bloco da administração da Colônia Juliano
Moreira. A participação deste carro blindado teve repercussão negativa na
imprensa. As forças armadas justificaram a presença para treinamento de futura
competição na área do exército anexa à Colônia na época. Também afirmou que se
tratava de um carro “Cascavel” e não um “Urucu”. Imagem de reportagem da TV
Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos.
Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4
Fontes:
1. Jornal do Brasil, edição de 24 de maio de 1988. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional - http://hemerotecadigital.bn.br
2. Trechos reportagem Rede Globo disponível no documentário Colônia Juliano Moreira, RJ - 80 anos. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4