“Os pescadores queixam-se do óleo que a lancha deixa à superfície das águas e o barulho da mesma, afugentando os peixes, sem que se tenha obtido uma providência da Capitania dos Portos e da Diretoria da Pesca.”
(Armando Magalhães Corrêa)
O trecho acima é do livro “O
Sertão Carioca”, do naturalista e pesquisador do Museu Nacional Magalhães
Corrêa. Essa publicação reúne uma série de estudos leigos de botânica,
geomorfologia e hidrografia sobre a Baixada de Jacarepaguá. Este fragmento do
livro mostra a poluição nas lagoas da Barra da Tijuca provocada pelo lançamento
de óleo dos barcos de turistas. O que parece apenas mais uma notícia da
acelerada degradação ambiental da nossa região, torna-se ainda mais alarmante
quando levamos em consideração que a publicação foi escrita em 1936, bem antes
do boom imobiliário da
Barra.
Em 2009, as Nações Unidas declararam que o Dia Internacional da Mãe Terra será comemorado no dia 22 de abril de cada ano. Infelizmente, não temos o que comemorar na Baixada de Jacarepaguá. Localizada na região litorânea oeste da cidade do Rio de Janeiro, essa região possui uma área de 160 km² que está situada numa extensa planície sedimentar circundada por dois maciços (Tijuca e Pedra Branca). Na sua base localiza-se a faixa de praia do litoral atlântico. O conjunto lagunar da região é composto pelas lagoas de Marapendi, Tijuca, Camorim, Jacarepaguá e Lagoinha das Taxas. O conjunto possui uma área total de 13,24 km².
A partir dos anos 1970, os corpos hídricos da baixada em questão vêm sofrendo profundas mudanças nas suas características, promovidas pela ação humana. O principal problema é o lançamento de esgoto bruto, sobretudo doméstico, nas águas dos rios que deságuam nas lagoas. Mesmo com a inauguração do emissário submarino, em abril de 2007, o complexo hidrográfico recebe 3,5 mil litros de dejetos por segundo. A grande quantidade de sedimentos e matéria orgânica provoca obstruções que diminuem a correnteza e dificultam muito a renovação da água. A poluição aumenta a quantidade de nitrogênio e de fósforo nas águas, contribuindo para a proliferação das cianobactérias e de microrganismos procarióticos que são capazes de produzir uma toxina que ataca o fígado e o sistema nervoso central.