Janis Cassilia
Professora e
pesquisadora do IHBAJA
Durante muito tempo perguntou-se se a
loucura era “contagiosa”. Estar próximo de loucos podia prejudicar a mente
sadia? Na história da psiquiatria brasileira, alguns médicos defenderam a ideia
de que ao invés de se isolar o doente, deveria-se reinseri-lo na sociedade. A
Colônia Juliano Moreira nasceu com esta ideia.
Fundada
em 1924, a Colônia Juliano Moreira, tinha como terapêutica o tratamento
hetero-familiar, o convívio controlado dos pacientes em um "ambiente social sadio". Para isso foi criada um vila de moradores, isto é, aqueles considerados
“bons funcionários” e suas famílias eram convidados a residirem dentro da
propriedade, ganhando terrenos para construírem suas casas. Esse foi o embrião
do atual bairro Colônia. Com o tempo essa vila de moradores cresceu e começou a
reinvindicar melhorias no transporte, luz urbana, calçamento e estradas,
parque, creche e escola. Parte dessas reinvidicações foram atendidas pelo
Governo Federal. Uma delas foi a criação da Escola 7-19, em um pavilhão, para
atendimento dos filhos desses funcionários.
A
Escola 7-19, hoje (Escola Municipal Juliano Moreira) encontra-se em outro
prédio, logo na entrada da Colônia, no ex-pavilhão de atendimento a crianças e
adolescentes do sexo masculino. Mas em 1943, o pavilhão utilizado, apresentava
sinais de desgaste, além de um número de alunos que não pertencia à comunidade
interna da Colônia. A escola cresceu e ganhou mais professoras. De fato, Jacarepaguá,
era bastante deficiente em escolas. Segundo uma estimativa da época eram
necessários 35 escolas para suprir a população da região. Mas qual a
particularidade da Escola 7-19? Ela fez parte de um movimento social dentro da
Colônia. Os hospitais psiquiátricos possuem como característica a “morte
social” do paciente. Eles perdem suas famílias, amigos e identidades; passam a
ser identificados e rotulados por números e diagnósticos. Para reinseri-los na
sociedade, os dirigentes da instituição psiquiátrica criaram essa vila, onde os pacientes eram
recebidos por famílias que conheciam seus temperamento, gostos, fobias, manias,
diagnósticos e histórias de vida.
Para
os moradores, a existência dessa escola era vista por uns como problemática e
por outros como justificável. Na Mesa Redonda promovida pelo Jornal “Diário de Notícias” em
1943 e com a participação de personagens de destaque do Rio de Janeiro, a
grande discussão girava na inconveniência da localização da 7-19. A Sra. Dyla
Sá (educadora) relatou que uma das professoras ficou doente diante das cenas
que presenciou. Ela se posicionou contra a existência dessa escola. O sr.
Válter Rocha Miranda alertava que a escola servia apenas para funcionários, mas
o Sr. Edmundo Melo declarava que a maior parte dos alunos não eram filhos de
funcionários. Um funcionário da Colônia, de nome Bento Monteiro, afirmou que se
os médicos não viam inconveniências na existência da escola porque eles veriam?
A reportagem mostra como era a visão da loucura e a relação entre psiquiatras e
moradores. Nem sempre a decisão médica era vista como benéfica. Como poderiam
alunos inocentes conviver com loucos? Deveriam transferir a escola de local?
Jornal
Diário de Notícias noticiando a mesa rendonda em Jacarepaguá em 1943.
Outros problemas foram levantados: a falta de
condução para as professoras, o funcionamento da segunda série escolar em um
galpão improvisado, e a promessa de novas instalações para a escola. Mas a
questão da Escola 7-19 estar dentro da Colônia foi muito forte. Diversas
opiniões foram ouvidas, sem se chegar à um consenso. Ainda que tenha mudado
para outro prédio, mais adequado às suas funções, a Escola 7-19 atravessou as
décadas e deu origem à Escola Juliano Moreira. Passou a atender oficialmente
alunos de fora da Colônia. Com a chegada da década de 1970 e a Reforma Psiquiátrica,algumas
das antigas instalações da Colônia foram sendo desativadas e a internação
passou a diminuir. O número de moradores aumentou, passando seus filhos a serem
alunos da antiga Escola 7-19, outrora pioneira na promessa do tratamento da
doença pelo convívio com as “boas famílias” da Colônia Juliano Moreira.
Fachada da
Escola Municipal Juliano Moreira. Retirado do site: www.rioeduca.net