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domingo, 27 de julho de 2014

Por Leonardo Soares dos Santos*

Por conta da II Guerra Mundial, as Copas de 1942 e 1946 foram suspensas. O mais beneficiado com a conflagração acabou sendo o Brasil, que por conta da quase aniquilação física e material da Europa foi instado por Jules Rimet a  sediar a Copa de 1949. Isso mesmo, a Copa se daria nesse ano e não em 50. Mas, devido a atrasos nas obras(!), o governo pediu que o evento fosse adiado em 1 ano. A FIFA prontamente acatou. Nem preciso dizer que todo o processo de construção dos estádios foi marcado na época por grandes denúncias de desvio, superfaturamento e atraso. Para se ter uma idéia, nenhum estádio foi entregue pronto. E muita gente, mas muita gente mesmo, reclamava pelo fato do governo gastar tanto num “evento esportivo”, com escolas e hospitais caindo aos pedaços….. (Careta, 1/11/47, p.16) O “povo antes de fazer ginástica precisa de alimento”, tascava O Malho em sua edição de fevereiro de 1948.


Mas nenhum estádio causou tanto rebuliço quanto o principal deles – o Maracanã. Por muitas semanas muitos temeram que ele tivesse um outro destino. E um personagem que tanto marcaria os destinos do país muito lutou para que isso ocorresse.


Assim que a Copa do Brasil foi confirmada, uma das primeiras providências foi projetar um estádio para a então capital da república. Depois de estudos sem qualquer transparência decidiu-se construí-lo no local do antigo Jockey, também chamado de Derby Club, às margens do rio Maracanã. Nascia então o projeto do Estádio Municipal – e esse era o seu nome. Só faltava a famosa verba orçamentária, que em bom português brasileiro significa – dinheiro arrancado do bolso dos contribuintes. Tudo corria bem até o então prefeito Mendes de Morais levar tal demanda à Câmara Municipal. Os governistas quiseram empurrar goela abaixo o projeto sem maiores discussões. Mas para seu azar, um jovem vereador da UDN começava ali sua trajetória, marcada pela virulência de seus discursos e posicionamentos – integralmente anti-governistas e de direita. Estamos falando de Carlos Lacerda. E uma de suas primeiras cruzadas foi lutar contra o Maracanã.


Outros eram mais radicais, como Tito Lívio, também da UDN, que era contra a construção de qualquer estádio. Mas Lacerda não. A partir da constatação dos absurdos gastos que se desenhavam, ele aproveitava para propor a retomada do antigo projeto de construção de um estádio olímpico em Jacarepaguá, de autoria do engenheiro Antonio Laviola. O estádio teria capacidade para cerca de 150 mil pessoas, beirando a lagoa de mesmo nome. O udenista via nisso a possibilidade de impulsionar a urbanização da antiga zona agrícola. Até porque o projeto previa a construção de loteamentos urbanos, uma estação de trem, uma Vila Olímpica. E de quebra, o projeto de Laviola era muito mais em conta. Mas a proposta de Lacerda foi muito mal recebida, Jacarepaguá ainda era vista como uma roça, incompatível para receber um estádio moderno.



E nisso se bateram os parlamentares defensores da localização no antigo Derby. E ainda contaram com a entusiástica campanha de Mario Filho, irmão de Nelson Rodrigues. Pelas páginas d’O Globo ele organizou um verdadeiro movimento pró-Derby (Maracanã): o bombardeio contra Lacerda era diário. Fato que contribuiu para que, décadas mais tarde, o estádio recebesse oficialmente o nome de seu ardoroso defensor, como forma de homenagem, embora popularmente sempre fosse chamado pelo nome do rio que o margeava.



Mas por alguns meses o homem que mais tramou golpes nesse país ameaçou mudar o destino do “maior do mundo”. Se tivesse mais sorte, o estádio tinha tudo para ser chamado popularmente de Jacarepaguá (nome da lagoa que o margearia), e em termos oficiais seria o Estádio Municipal Governador Carlos Lacerda. A História e seus ardis – já dizia o velho Hegel.
* Leonardo Soares dos Santos é pesquisador do IHBAJA e UFF .