Por Janis
Cassilia (pesquisadora do IHBAJA)
Nos
primeiros anos do século XX, a nova república brasileira lutava pela criação de
um Brasil Moderno. No Rio de Janeiro foi a época das “Reformas de Pereira
Passos” que embelezou a cidade, mas criou um abismo entre os mais ricos e mais
pobres. Foi a época da Revolta da Chibata, da Revolta da Vacina e tantos outros
movimentos que contestavam a desigualdade e exclusão social.
Avenida Central (atual Rio Branco) em 1920
Na área da saúde,
o novo governo queria dar uma solução à questão das doenças mentais,
considerando o antigo Hospício da Praia Vermelha, inadequado e “depósito
humano”. Começaram a surgir discursos pela criação de um hospital afastado do
Centro em que os pacientes recebessem as terapias médicas necessárias.
Jacarepaguá foi o lugar escolhido.
Em
1924, foi inaugurada nas terras do Antigo Engenho Novo, o novo hospital para
tratamento de pacientes psiquiátricos masculinos. Criado com apenas um núcleo
de Pavilhões, a “Colônia Psicopatas-Homens” possuía o que a medicina via como
de mais moderno nos tratamentos das psicopatias.
Havia oficinas de
Praxiterapia, isto é, oficinas de colchões, hortaliças e oficinas mecânicas,
que ajudaria no tratamento dos doentes e na manutenção do hospital. E o
Tratamento Hetero-Familiar, onde o paciente considerado apto era acolhido por
alguma família de servidores para sua a reinserção social. Para tanto, ao longo
das décadas o governo federal realizou a doação de terrenos para a criação de
uma vila de moradores.
Ao
longo dos anos, a Colônia de Jacarepaguá, sofreu diversas melhorias, ampliações
de sua estrutura e formas de atendimento. Passou a possuir 4 núcleos de
pavilhões, a atender pacientes mulheres, crianças, tuberculosos e os
considerados perigosos. A Vila de Moradores aumentou, recebeu escola, oficinas,
cinema e rádio. Foi construído o Bloco Médico Álvaro Ramos, onde eram
realizadas as psicocirurgias, como a Lobotomia e tratamentos como o Choque
Elétrico e a Convulsoterapia por Cardiazol.
Até 1954, a Colônia, que já era
nomeada Colônia Juliano Moreira, era considerada modelo de Hospital-Colônia
pelo Serviço Nacional de Doenças Mentais, órgão do Governo Federal responsável
pela execução das políticas públicas na área da Doença Mental. A colônia era a
“garota propaganda” do Governo Populista de Getúlio Vargas, recebendo visita de
autoridades políticas em diversas ocasiões.
Com
a Ditadura Civil-Militar, a situação da Colônia mudou. Ela passou a sofrer com
a superlotação, o choque elétrico passou a ser administrado como forma de
punição, o número de servidores, cuidadores, médicos e enfermeiros era
insuficiente para atender a população de internos. Faltava verba, médicos,
comida e roupas. Em contrapartida, a antiga vila de moradores cresceu criando
um verdadeiro bairro dentro de Jacarepaguá. A Colônia era um bairro com uma
vida própria ao mesmo tempo que havia se tornado o novo “depósito humano” de
doentes.
Bispo do Rosário, artista internado na Colônia.
Nesse cenário, a reforma psiquiátrica ganhou força dentro da
instituição. A luta dos servidores por melhorias e pela reformulação das
políticas de saúde mental renderam frutos apesar da repressão durante a
ditadura. A reforma possibilitou o fim da internação compulsória e a criação do
Hospital Dia. Com o tempo, as antigas instalações que ainda funcionavam foram
desativadas e em 1996 o hospital foi municipalizado, passando a se chamar
Instituto Municipal de Atendimento à Saúde Mental Juliano Moreira (IMASJM).
Centro Histórico da Colônia Juliano Moreira em abandono
Portão principal do IMASJM