Os problemas com o transporte público
em Jacarepaguá não são recentes. Todo morador da região que depende de ônibus
ou BRT já teve que: 1. Acordar ou sair cedo, 2. Se acostumar com veículos
lotados, 3. Pagar uma tarifa considerada cara por um serviço mal prestado, 4.
Se acostumar com as constantes obras para “melhorar” o trânsito. Essa situação
persiste desde a inauguração do primeiro transporte público que ligou o bairro
ao restante da cidade: o bonde.
A linha de bonde inaugurada em 1875
aproximou Jacarepaguá do restante da cidade. Naquele ano foi inaugurada a
Companhia Carril-Jacarepaguá com o sistema de bonde com tração animal. Em 1911,
a Light comprou a companhia e se comprometeu a eletrificar o sistema até 1912. Fato
que não se concretizou em sua totalidade. Em 1924, o Sr. Arthur Menezes,
representante da Freguesia de Jacarepaguá na Assembleia Legislativa, protestou
contra o projeto nº 83 do mesmo ano que exigiria a construção de muros (em
zonas urbanas), cercas (zonas rurais) e calçadas (passeios) pelos moradores das
residências cujas ruas passavam a linha de bonde. Menezes protestou pela
injustiça da medida já que em Jacarepaguá o bonde que deveria ser eletrificado
ainda era de tração animal. Em 1927, somente as linhas para o Tanque e
Freguesia eram eletrificadas enquanto a demanda de usuários crescia vertiginosamente.
Em 1923, com o progressivo fechamento
das Colônias Agrícolas da Ilha do Governador e do Hospício da Praia Vermelha,
parte dos pacientes foi transferida para a Colônia de Psicopatas Homens de
Jacarepaguá, à época em fase de construção (foi inaugurada em 1924). A
transferência, segundo autoridades da época, realizou-se com os pacientes
acorrentados nos vagões de trem até a estação de Cascadura e de lá até a
Colônia através de carroças.
Um artigo publicado no “O Jornal”, em outubro de 1927, abordava
a falta de organização na integração dos sistemas de Trens e Bondes em
Jacarepaguá, gerando transtornos graves. Uma das principais queixas eram os
horários das saídas e chegadas desses transportes, pois o trem com passageiros
chegava em Cascadura cinco minutos depois da saída do bonde em direção à
Jacarepaguá. Com intervalos de mais ou menos uma hora entre si, o passageiro
que chegava às 15h35 em Cascadura perdia o bonde que saía às 15h30, só restando
esperar pelo horário de 16h30 ou ir a pé até em casa.
Para além desses problemas, os bondes
eram mal conservados e não forneciam segurança adequada para os passageiros.
Existem várias reportagens da época que mostram pessoas presas entre bondes,
automóveis e/ou carroças, brigas entre motoristas com ferimentos por arma
branca, atropelamentos de pedestres e de animais.
Na década de 1940, a linha chegava até
a Freguesia ou, como diziam, “Porta d’Água”.
Mas esse transporte não veio acompanhado de uma infraestrutura básica para seu
funcionamento. Em janeiro de 1940, uma
obra da linha da Light de bondes trazia transtornos para os moradores do
bairro. O largo do Tanque havia se tornado um verdadeiro campo de guerra,
fazendo o ir e vir dos moradores ser um verdadeiro tormento. Um morador da
região escreveu uma carta ao Jornal do
Brasil reclamando da situação da obra e dando um panorama da situação:
quebra-quebra, materiais da obra pelas ruas, sujeira e poeira, transtornos para
pedestres e motoristas. Não parece uma situação atual no bairro? Em outra data,
o mesmo jornal aponta um engavetamento de bondes ocorrido no mesmo largo, com
vários feridos.
Jacarepaguá era, nessa época, um local cortado
por sítios e fazendas com três grandes hospitais. Alguns redutos como Tanque,
Pechincha, Freguesia e Praça Seca apresentavam pequenos comércios e algumas características
urbanas. Em 1943, foi inaugurada a atual Avenida Menezes Côrtes ou Serra
Grajaú-Jacarepaguá, para facilitar a locomoção entre a Baixada de Jacarepaguá e
o restante da cidade. Dentro de Jacarepaguá também havia mudanças, os carros
tornaram-se mais utilizados e os taxis rodavam pelas ruas levando gente para
dentro e fora da região.
Mas para o autor da carta ao Jornal do
Brasil, faltava interesse das autoridades em melhorar o serviço público de
transportes. Para ele, Jacarepaguá era um lugar de beleza selvagem, e que
continuava selvagem na sua infraestrutura. Ele cobrava atitudes das autoridades
e mais comprometimento do prefeito da época.
Um número maior de carros passou a
circular pelas ruas e, por consequência, aumentou a quantidade de acidentes. Em
1950, um taxi em alta velocidade bateu em um bonde, ferindo muitas pessoas que
foram atendidas no Hospital do Meyer, localidade bem distante de Jacarepaguá.
Os jornalistas aproveitaram para encher as páginas de fotos dos feridos. Era um
jornalismo que vendia e vende até hoje o sensacionalismo! Os bondes foram
desativados em 1964 e substituídos pelos ônibus.
Legenda foto:
Bonde elétrico circulando no Rio de
Janeiro.
Disponível em: http://memoriacarris.blogspot.com/2014/