Janis Cassília
Hoje se perguntarmos a uma pessoa o que é o tango brasileiro, muito provavelmente a pessoa dirá “não sei”. Ou então se perguntarmos quem era Ernesto Nazareth, poucas pessoas saberão dizer. Numa época em que pagodes, sambas e outras músicas populares invadem as lojas e nossos iphones, deveríamos saber que houve outra época, em que mesclar o erudito com o popular era inovador. Um feito para grandes mestres da música brasileira, o mais reconhecido deles, Ernesto Nazareth.
Há 150 anos nasceu Ernesto Nazareth (1863-1934). Esse homem que foi, no fim de sua vida, paciente da Colônia Juliano Moreira, é visto como um dos grandes mestres da música popular brasileira, lugar de destaque que divide com Chiquinha Gonzaga. Nasceu em uma casa na encosta do Morro do Pinto na região do Porto do Rio de Janeiro. Seu pai era um despachante aduaneiro e sua mãe, que morreu quando Ernesto ainda era criança, a responsável por lhe instruir os primeiros ensinamentos musicais. Aos 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, uma resposta ao pai, para afirmar sua vocação musical. Ernesto Nazareth compôs mais de 200 obras, a mais famosa “Odeon”, e a maior parte delas tangos brasileiros, que faziam parte dos Chorões, uma união de ritmos que animava as festas (forrobodós) cariocas. Ligado à música erudita, Nazareth trazia em suas composições elementos populares e africanos. Passou a vida, gravando músicas, se apresentando nas casas de música como pianista demonstrador e no salão de espera do Cinema Odeon. Foi reconhecido internacionalmente, o que não lhe privou de uma vida modesta, apesar de suas músicas terem dado lucro para seus editores. Casado e pai de quatro filhos, trabalhou como compositor, instrumentista, pianista e professor de música.
No decorrer de sua vida perdeu a audição e foi internado na Colônia Juliano Moreira em 1933, onde tocava piano na casa do administrador. Em 1934, depois de visita da sua filha, Ernesto Nazareth fugiu da instituição. Seu corpo foi achado três dias depois, na cachoeira da Colônia, em estado de decomposição. Era um domingo triste de carnaval. O Rio de Janeiro havia perdido um grande compositor para a morte e a loucura.
Ernesto Nazareth aos
45 anos, 1908. Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte:
http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images
Anúncios de discos
da gravadora Odeon, 1930, incluindo o 78-RPM gravado pelo próprio
Nazareth contendo as peças Apanhei-te, cavaquinho e Escovado.
Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte:
http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images
Reportagem
anunciando a morte de Ernesto Nazareth, Correio da Manhã,
terça-feira, 6 de fevereiro de 1934. Fonte:
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx