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sexta-feira, 14 de março de 2014

PROBLEMAS SOBRE TRILHOS: o sistema de bondes em Jacarepaguá e os moradores descontentes.

Problemas com transporte público em Jacarepaguá não são recentes. Qualquer pessoa que precise utilizar o transporte público precisa: 1. Acordar ou sair cedo; 2. Se acostumar com ônibus, trem ou metros cheios; 3. Pagar uma tarifa considerada cara por um serviço, muitas vezes, mal prestado; 4. Se acostumar com as constantes obras para “melhor” o trânsito. Mas essa situação não é atual. Em Jacarepaguá é um problema que persiste desde a inauguração do primeiro transporte público que ligou o bairro ao restante da cidade: o bonde.

            A linha de bonde inaugurada em 1875 aproximou Jacarepaguá ao restante da cidade. Era o sistema de bonde com tração animal da Companhia Carril - Jacarepaguá Até então o transporte era feito através de carroça ou à pé. Em 1911, a Light comprou a companhia e passou a eletrificar o sistema até 1912. Na década de 1940, a linha chegava até a Freguesia ou como diziam “Porta D’Água”. Mas esse transporte não veio acompanhado de uma infraestrutura básica para seu funcionamento.  Ao contrário, engavetamentos, acidentes e obras constantes faziam parte da rotina do bairro. Em janeiro de 1940, uma obra da linha Light de bondes trazia transtornos para os moradores do bairro. O largo do Tanque havia se tornado um verdadeiro campo de guerra, fazendo o ir e vir dos moradores ser um verdadeiro tormento. Um morador da região escreveu então ao Jornal do Brasil reclamando da situação da obra e dando um panorama da situação: quebra quebra, materiais de obra pelas ruas, sujeira e poeira, transtorno para pedestres e motoristas, e o coitado do largo totalmente modificado. Não parece uma situação atual pelo qual passa nosso bairro? Em outra data, o mesmo jornal aponta um engavetamento de bonde ocorrido no mesmo largo, com vários feridos.



Coisas da Cidade. Carta de morador de Jacarepaguá ao Jornal do Brasil. 4 de janeiro de 1940. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/#

            Jacarepaguá era nessa época, um local cortado por sítios e fazendolas, três grandes hospitais. Mas alguns redutos como Tanque, Pechincha, Freguesia e Praça Seca, apresentavam na década de 1940 um pequeno comércio e feições urbanas. De fato, a população cresceu muito até 1950. Em 1943 foi inaugurada a atual Menezes Cortês, ou Serra Grajaú-Jacarepaguá, para facilitar a locomoção entre a baixada de Jacarepaguá e o restante da cidade. Dentro de Jacarepaguá, também havia mudanças, os carros tornaram-se mais utilizados e táxis rodavam pelas ruas levando gente para dentro e fora do bairro.
            Mas para o autor da carta ao Jornal do Brasil faltava interesse nas autoridades em melhorar o serviço público de transportes. Para ele, Jacarepaguá era um lugar de beleza selvagem, e que continuava selvagem na sua infraestrutura. Cobrava-se atitudes das autoridades, mais comprometimento do prefeito, sendo a tal carta um desabafo da população.
            Mas esqueceram de cobrar a melhoria da atitude dos próprios moradores. Mais carros circulavam pelas ruas, e por consequência teve-se mais acidentes. Em 1950, um táxi em alta velocidade bateu em um bonde, ferindo muitas pessoas que foram atendidas no Hospital do Meyer (localidade bem distante de Jacarepaguá). Os jornalistas aproveitaram para encher as páginas de fotos dos feridos. Era um jornalismo que vendia e vende até hoje: o sensacionalista.

            Os bondes foram desativados em 1964 e substituídos pelos ônibus. Os problemas persistem, muitos idênticos à 1940. Mas agora o bairro possuí outra feição, um novo papel na cidade: o de integrar novos bairros considerados mais distantes ou mais nobres. O sistema de transportes encontra-se em modificação para se adequar à esse novo papel. Para o redator da carta de 1940, o sistema de transporte público refletia a situação de Jacarepaguá na época: um bairro cheio de belezas, mas deixado ao relento como uma rapariga de vestido de chita e pés no chão. Uma zona rural que ansiava pelas melhorias urbanas.