Problemas com transporte público em Jacarepaguá
não são recentes. Qualquer pessoa que precise utilizar o transporte público
precisa: 1. Acordar ou sair cedo; 2. Se acostumar com ônibus, trem ou metros
cheios; 3. Pagar uma tarifa considerada cara por um serviço, muitas vezes, mal
prestado; 4. Se acostumar com as constantes obras para “melhor” o trânsito. Mas
essa situação não é atual. Em Jacarepaguá é um problema que persiste desde a
inauguração do primeiro transporte público que ligou o bairro ao restante da
cidade: o bonde.
A linha de bonde inaugurada em 1875
aproximou Jacarepaguá ao restante da cidade. Era o sistema de bonde com tração
animal da Companhia Carril - Jacarepaguá Até então o transporte era feito
através de carroça ou à pé. Em 1911, a Light comprou a companhia e passou a
eletrificar o sistema até 1912. Na década de 1940, a linha chegava até a
Freguesia ou como diziam “Porta D’Água”. Mas esse transporte não veio
acompanhado de uma infraestrutura básica para seu funcionamento. Ao contrário, engavetamentos, acidentes e
obras constantes faziam parte da rotina do bairro. Em janeiro de 1940, uma obra
da linha Light de bondes trazia transtornos para os moradores do bairro. O
largo do Tanque havia se tornado um verdadeiro campo de guerra, fazendo o ir e
vir dos moradores ser um verdadeiro tormento. Um morador da região escreveu
então ao Jornal do Brasil reclamando da situação da obra e dando um panorama da
situação: quebra quebra, materiais de obra pelas ruas, sujeira e poeira,
transtorno para pedestres e motoristas, e o coitado do largo totalmente
modificado. Não parece uma situação atual pelo qual passa nosso bairro? Em
outra data, o mesmo jornal aponta um engavetamento de bonde ocorrido no mesmo
largo, com vários feridos.
Coisas
da Cidade. Carta de morador de Jacarepaguá ao Jornal do Brasil. 4 de janeiro de
1940. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/#
Jacarepaguá era nessa época, um
local cortado por sítios e fazendolas, três grandes hospitais. Mas alguns
redutos como Tanque, Pechincha, Freguesia e Praça Seca, apresentavam na década
de 1940 um pequeno comércio e feições urbanas. De fato, a população cresceu
muito até 1950. Em 1943 foi inaugurada a atual Menezes Cortês, ou Serra
Grajaú-Jacarepaguá, para facilitar a locomoção entre a baixada de Jacarepaguá e
o restante da cidade. Dentro de Jacarepaguá, também havia mudanças, os carros
tornaram-se mais utilizados e táxis rodavam pelas ruas levando gente para
dentro e fora do bairro.
Mas para o autor da carta ao Jornal
do Brasil faltava interesse nas autoridades em melhorar o serviço público de
transportes. Para ele, Jacarepaguá era um lugar de beleza selvagem, e que
continuava selvagem na sua infraestrutura. Cobrava-se atitudes das autoridades,
mais comprometimento do prefeito, sendo a tal carta um desabafo da população.
Mas esqueceram de cobrar a melhoria
da atitude dos próprios moradores. Mais carros circulavam pelas ruas, e por
consequência teve-se mais acidentes. Em 1950, um táxi em alta velocidade bateu
em um bonde, ferindo muitas pessoas que foram atendidas no Hospital do Meyer
(localidade bem distante de Jacarepaguá). Os jornalistas aproveitaram para
encher as páginas de fotos dos feridos. Era um jornalismo que vendia e vende
até hoje: o sensacionalista.
Os bondes foram desativados em 1964
e substituídos pelos ônibus. Os problemas persistem, muitos idênticos à 1940. Mas
agora o bairro possuí outra feição, um novo papel na cidade: o de integrar
novos bairros considerados mais distantes ou mais nobres. O sistema de
transportes encontra-se em modificação para se adequar à esse novo papel. Para
o redator da carta de 1940, o sistema de transporte público refletia a situação
de Jacarepaguá na época: um bairro cheio de belezas, mas deixado ao relento
como uma rapariga de vestido de chita e pés no chão. Uma zona rural que ansiava
pelas melhorias urbanas.