No dia 11/02/2017 o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) realizou a 2ª Edição da Caminhada Eco-histórica. Foi uma atividade de Visita-guiada aos atrativos históricos e naturais da vertente Sul do Maciço da Pedra Branca (no bairro de Vargem Grande), organizada em conjunto com a Associação de Moradores Quilombo Vargem Grande, os coletivos JPA-Afrocultural e Gaia Viva.
A atividade iniciou por volta das 9h no Largo de Vargem de Grande com apresentação dos organizadores e dos participantes. Em seguida, o grupo seguiu pela estrada do Mucuíba até o início do caminho do Cafundá. A condução da atividade foi feita por Sandro Santos (Associação de Moradores Quilombo Vargem Grande), Renato Dória (Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá) e Júlio Dória (C.E. Prof. Theófilo Moreira da Costa e JPA-Afrocultural).
Além da Caminhada Eco-Histórica, os participantes da atividade conheceram a Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundá Astrogilda, visitaram a sede do Quilombo e as futuras instalações do Eco-Museu da Cultural Afrodescendente local. Ao longo da Visita-guiada, o grupo teve vários momentos de bate-papo e ao final desfrutaram dos atrativos naturais do local: apreciaram a vista do Recreio dos Bandeirantes a partir de um mirante, visitaram a roça de agricultores do local e tomaram banho de cachoeira.
Atualmente na cidade do Rio de Janeiro são quatro as Comunidade
Remanescentes de Quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares:
as duas mais conhecidas estão localizadas em áreas urbanizadas, ou
seja, são quilombos urbanos: o da Pedra do Sal, na zona Portuária, e o
Sacopã, na Lagoa, zona sul da cidade. As outras duas, menos conhecidas,
estão situadas na zona oeste da cidade: são as comunidades Quilombola do
Camorim, situada no mesmo bairro e a Cafundá Astrogilda, em Vargem
Grande. Esta, certificada em 2014, foi a última comunidade quilombola da
cidade do Rio de Janeiro a ser reconhecida pela Fundação Palmares.
A Baixada de Jacarepaguá, durante o período colonial e de auge da
produção açucareira no Brasil, chegou a abrigar mais de onze (11) engenhos de
fabricação do açúcar. Muitos são os registros fazendo referência à
região como a "planície dos onze engenhos". Muitos, também, são os
registros que fazem referência à presença quilombola e de resistência à
escravização de negros africanos na região: a Serra do Quilombo (em
Vargem Grande), a Pedra do Quilombo (na Taquara), a Serra dos Pretos
Forros (entre a Covanca e Freguesia).
Estes indícios da presença quilombola na região de Jacarepaguá são
reforçados por inúmeras pesquisas que apontam a fuga para as "matas
elevadas" e a organização de quilombos como uma das práticas principais
de resistência à escravização na cidade do Rio de Janeiro. Daí a
nomeação de morros, serras e outros elementos da geografia local fazendo
referência ao passado quilombola da região de Jacarepaguá. Daí, também,
explica-se, em parte, a existência das duas comunidades remanescentes
de quilombo em Jacarepaguá terem se desenvolvido nas vertentes elevadas
do Maciço da Pedra Branca.
Participantes da atividade reunidos em frente à placa do Parque Estadual da Pedra Branca |
E uma característica relevante da Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundá Astrogilda é guardar até hoje em dia aspectos rurais: muitas famílias que moram por lá ainda praticam agricultura de
subsistência que contribui, também, para o abastecimento do mercado
local de alimentos: abóbora, aipim, inhame, banana, limão e diversas
hortaliças são cultivadas por lavradores e lavradoras do quilombo. No local há mais de 200 anos, as famílias de moradores do quilombo
Cafundá Astrogilda tem uma herança cultural de grande importância, não
somente histórico-cultural mas, sobretudo, econômica, pois contribui
para a produção de alimentos sem agrotóxicos para o consumo dos
moradores da região de Vargem Grande e Jacarepaguá.
Grupo reunido na entrada da sede do Quilombo Cafundá Astrogilda |