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segunda-feira, 12 de maio de 2025

IHBAJA presente ao Seminário 100 anos da Colônia Juliano Moreira!

Janis Cassilia, membra do IHBAJA, estará no Seminário 100 anos da Colônia Juliano Moreira!


Fonte: https://prefeitura.rio/saude/colonia-juliano-moreira-comemora-100-anos-com-exposicao-gratuita-com-obras-de-arthur-bispo-do-rosario/


"No dia 17/05, às 8h, o Museu Bispo do Rosario abre as portas para um importante encontro entre arte, história e cuidado. Um convite à escuta, à crítica e à construção coletiva de novas narrativas sobre um território atravessado por memórias difíceis.

Três mesas de conversa com pesquisadores, artistas, profissionais da saúde e agentes culturais para discutir:
• Histórias da Colônia
• Interseccionalidades na Atenção Psicossocial
• Como expor memórias difíceis?"

Mais informações, clique AQUI.

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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Jacarepaguá e seus hospitais de isolamento

 

Por Janis Alessandra Pereira Cassilia

Pesquisadora do IHBAJA

Professora de história e mestre em história das ciências e da saúde (COC/Fiocruz) 

 

            No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal passou por uma série de transformações urbanísticas e sociais. Casarões e cortiços, lares dos mais pobres eram demolidos enquanto as chamadas “classes perigosas” se dirigiam para zonas mais afastadas, formando as primeiras favelas e bairros do subúrbio da zona norte. Ao mesmo tempo, a elite começa a direcionar suas residências e palacetes para a zona sul à procura de ares mais sadios e longe das doenças do centro. Procurava-se produzir uma cidade organizada e “civilizada” aos moldes europeus como vitrine de um país modernizado de acordo às ideias da recém proclamada república brasileira.

Longe do burburinho do centro, Jacarepaguá era considerada zona rural do município, o chamado “sertão carioca”, com fazendas, sítios e chácaras que produziam hortaliças, frutíferas e outros gêneros. O acesso era difícil, feito a carroça, charrete ou a pé. Durante muito tempo a estação de trem mais próxima ficava em Cascadura, e a linha do bonde (à tração animal e depois elétrico) seguia da Praça Seca até o Tanque. Grande parte da região, ainda conservava os velhos casarões e fazendas coloniais, muitos deles de antigas famílias nobres e de ordens religiosas.

            No meio de tantas transformações, intelectuais, políticos, médicos e sanitaristas pensavam a cidade do Rio de Janeiro como uma cidade doente que deveria ser medicalizada e higienizada. Enquanto o movimento pela vacina era visto como medida primordial para o combate de doenças, pensava-se que o tratamento de outras doenças deveria ser realizado em isolamento e longe dos centros urbanos. Diversos argumentos eram utilizados para implantar esse modelo de tratamento e assistência, como retirar da cidade a fim de proteger os doentes dos olhares dos habitantes, impedir a circulação de vadios e personagens violentos, além de proporcionar a esses indivíduos um local sadio e em meio à natureza.

            Para isso, a área de Jacarepaguá foi eleita como lugar ideal para a criação de hospitais de isolamento de tratamento de doenças como tuberculose, lepra e doença mental, pois oferecia o clima e a distância necessárias para tal feito. Entre as décadas de 1920 e 1950 quatro hospitais foram criados na Baixada de Jacarepaguá, todos obedecendo os critérios de locais de isolamento e tratamento dessas doenças.

            Construídos na década de 1920, a Colônia Juliano Moreira e o Hospital-Colônia Curupaiti, estavam dentro dos parâmetros do conceito de Hospital-Colônia, um local de grande extensão espacial, longe dos centros urbanos e de difícil acesso, onde além do tratamento houvesse meios de formação de um espaço de sociabilidades dentro do hospital e controlado pela equipe médica. Inaugurados nas décadas de 1940 e 1950, o Hospital de Santa Maria e o Conjunto Sanatorial da Curicica, de atendimento a tuberculosos, estavam inseridos em uma política de erradicação da Tuberculose do Governo Federal. Eram grandes instalações que preconizavam o isolamento como forma de tratamento e de impedir a propagação da doença. É característico destes espaços a internação compulsória e o longo tempo de internação, culminando muitas vezes em grande parte da vida do paciente.

 

Colônia Juliano Moreira (atual Instituto Municipal de Assistência à Saúde Mental Juliano Moreira)


Arcos da Colônia Juliano Moreira. Acervo fotográfico do Museu Bispo do Rosário.

     Em área equivalente ao bairro de Copacabana, a Colônia Juliano Moreira é uma instituição psiquiátrica fundada em 1924 para atendimento de pacientes masculinos e a mais antiga instituição hospitalar de Jacarepaguá. Está situado nas terras da Fazenda do Engenho Novo, desapropriada pelo poder público em 1912. Na época da inauguração foi nomeada como Colônia de Psicopatas- Homens e, a partir da década de 1930, passou a atender pacientes mulheres, idosos e crianças. Se tornou a partir desse momento em um imenso hospital-colônia com diversos tratamentos cirúrgicos (como lobotomia) e eletrochoque e choque químico) e terapêuticas pautadas no trabalho em oficinas e hortaliças. Além disso foi criada uma vila formada por alguns funcionários e suas famílias que deveriam oferecer um “ambiente saudável” para a ressocialização do paciente (tratamento hetero familiar). Em 1946 foi renomeada como Colônia Juliano Moreira.

 Até a década de 1950, possuía 4 núcleos com diversos pavilhões, incluindo um para cirurgias como lobotomia e tratamento por eletrochoque e choque químico, e passou a ser visto como o mais importante hospital psiquiátrico do Brasil. No auge do seu funcionamento, a colônia chegou a atender quase 8 mil internos, possuir 4 núcleos divididos em 2 masculinos e 2 femininos, pavilhões para tuberculosos, pavilhões de isolamento para pacientes perigosos, necrotério, hospital de cirurgias, cinema, rádio, hortas e oficinas mecânicas e de colchões, campo e time de futebol, clube recreativo, igreja, vila de casas para funcionários, casa do diretor e de médicos e biblioteca.

Contudo a superlotação e os cortes no orçamento contribuíram para a depredação e abandono de pavilhões e núcleos. Enquanto isso, a comunidade interna aumentava e ganha feições de bairro integrado ao resto da cidade.

Apesar de sua estrutura, inúmeras eram as histórias de abandono e de dificuldades dos pacientes. Muitos eram para lá encaminhados de outras instituições psiquiátricas, correcionais ou até mesmo da polícia e eram internados de forma compulsória. Nos anos 70 e 80 as denúncias de maus tratos ganharam força e impulsionaram o movimento da reforma psiquiátrica.

Hoje, a área é dividida pela Prefeitura do Rio de Janeiro, a Fundação Oswaldo Cruz e o Exército, e é cortada por uma via expressa (a transolímpica). Algumas unidades de tratamento ainda existem como o Hospital Jurandyr Manfredini e pavilhões dos núcleos Rodrigues Caldas e Franco da Rocha. Outros prédios do antigo hospital sofrem com a descaracterização, invasões e abandono.

 

Hospital Colônia Curupaiti (atual Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária – Hospital Curupaiti Dermatologista)

 

"Esta Casa foi a sede de administração até 1937. Hoje o Hospital tem lotação para 400 doentes e é centro de leprologia". Hospital Colônia de Curupaiti, fundado em Jacarepaguá, Distrito Federal, em Outubro de 1928. Acervo Base Arch da Casa de Oswaldo Cruz. Fiocruz. Disponível em: http://basearch.coc.fiocruz.br/

 

Fundado em 1928, em terreno elevado de difícil acesso e de 130 mil m², o Hospital Colônia do Curupaiti, foi um dos primeiros hospitais-colônia para o tratamento da hanseníase em controle do Estado. Se tornou centro de referência no tratamento da doença apesar da internação compulsória realizada no local. Começando com o tratamento de 53 pacientes, com o passar dos anos viu o número de internos e suas instalações aumentarem. Possuía 3 pavilhões e abrigos masculinos, 1 pavilhão e abrigo femininos, cineteatro, rádio, campo de futebol, hospital de cirurgias, prédio de psiquiatria, prédio para tratamento de crianças, além de casas e vilas para os internos, divididos entre solteiros e casais. A vida social dentro da Colônia também era expressiva, dado a existência de muitas festas (como casamentos e aniversários) e de festas religiosas (como carnaval, juninas, entre outros). Além da presença da Igreja Católica, havia centro espírita, centro de umbanda, igrejas evangélicas e centro budista.

A internação compulsória também foi uma característica desta instituição. Assim como a doença mental, a hanseníase (antiga lepra) trazia a seus enfermos o estigma do preconceito, e uma morte social que precedia a morte física. Dentro da instituição, esses pacientes se integravam a vida social lá existente enquanto recebiam tratamento para a hanseníase. Muitos já curados permaneciam no Curupaiti devido a crença no retorno da doença e na dificuldade de retornar a sociedade externa fora dos muros do hospital-colônia.

            Após a década de 1980, quando o isolamento e a internação compulsória deixaram de existir, o espaço passou a sofrer cada vez com o abandono e depredação das suas instalações. Atualmente em parte do terreno foi criada uma comunidade. Os prédios do cineteatro, rádio e outros instrumentos de socialização foram abandonados, com exceção de alguns centros religiosos e do campo de futebol.  Muitos ex-pacientes continuam a residir dentro dos pavilhões com dificuldades de mobilidade (provocadas pela doença ou por velhice) e de reinserção social (como moradia e emprego). Outros constituíram família e residem em casas e vilas dentro do hospital.

 

Hospital Sanatório Santa Maria (atual Hospital Estadual Santa Maria)



Hospital de Santa Maria, em Jacarepaguá, s/d. Acervo pessoal.

            Sua construção teve início em 1939, em terras da antiga Fazenda Santa Maria. Foi inaugurado em 1943, mas só começou a atender pacientes em 1945, com 26 enfermos transferidos do Hospital São Sebastião. Era um hospital destinado ao isolamento e tratamento de tuberculosos, com capacidade de 546 leitos, e fazia parte do projeto de construção de diversos sanatórios no Brasil, a cargo do Departamento Nacional de Tuberculose (DNT), do Ministério da Educação e Saúde (MES).

            Localizado em terreno elevado de difícil acesso, recebia pacientes transferidos de diversas instituições e a partir dos anos de 1960 passou a estar sob a responsabilidade do governo estadual e a prestar atendimento clínico e cirúrgico. Em meados dos anos de 1970, as cirurgias foram interrompidas, dedicando-se à internação e isolamento dos pacientes tísicos.

            Com a passagem do tempo formou-se uma comunidade ao redor do Hospital. Diversas enfermarias e pavilhões foram desativados e abandonados. Nos últimos anos, os conflitos entre o tráfico de drogas e a milícia que disputam território na região, atingiram o hospital que foi fechado pelo poder público estadual em 2019.

 

Conjunto Sanatorial de Curicica (atual Hospital Municipal Raphael de Paula Souza)



Vista aérea das obras do Sanatório de Curicica”, fotografia com data de 25 de março de 1950. Fonte: Base Arch da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz. Disponível em: http://basearch.coc.fiocruz.br/

             Inaugurado em 1951 e funcionando a partir de 1952, o Conjunto Sanatorial de Curicica foi destinado a internação de tísicos e do tratamento da tuberculose. O hospital foi projetado pelo arquiteto Sérgio Bernades e é um exemplo arquitetônico único entre os hospitais de isolamento de Jacarepaguá. A criação do hospital fazia parte do programa federal Campanha Nacional contra a da Tuberculose (CNCT), do Serviço Nacional de Tuberculose (SNT) que propunha a erradicação da doença no Brasil em até 10 anos. O tratamento para a tuberculose foi criado em 1946 e, portanto, acreditava-se que o isolamento dos doentes em Jacarepaguá, proporcionava solução para a disseminação e a cura através do tratamento pelo antibiótico estreptomicina.

            O Conjunto Sanatorial Curicica possuía capacidade para 1.500 leitos, era composto biblioteca, enfermarias, laboratório, centro cirúrgico, maternidade, biblioteca, administração, necrotério, alojamento para médicos e diretor, centro médico, biotério, capela, estação de tratamento de esgoto, subestação de luz e força, entre outros prédios típicos de hospitais de isolamento e que também existiam na Colônia e no Curupaiti.        

            A partir da década de 1980, o hospital foi dividido em duas partes. Uma administrada pelo município do Rio de Janeiro, que compunha o hospital, os serviços ambulatoriais e a administração, e outra composta pela Casa do Diretor e alojamentos que passaram a compor um centro de pesquisa, Centro de Referência Hélio Fraga, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Fiocruz. A parte sob responsabilidade do município encontra-se em estado de má conservação e completo abandono, com pavilhões, enfermarias fechadas, inclusive o centro cirúrgico.  Parte do terreno original do hospital sofreu com invasões e a criação de uma comunidade. Além disso, foi construída uma creche municipal e pavilhões foram demolidos pelo poder público alegando-se perigo de desabamento.

 

 

 

           

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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

História da Colônia Juliano Moreira



Por Janis Cassilia (pesquisadora do IHBAJA)
Nos primeiros anos do século XX, a nova república brasileira lutava pela criação de um Brasil Moderno. No Rio de Janeiro foi a época das “Reformas de Pereira Passos” que embelezou a cidade, mas criou um abismo entre os mais ricos e mais pobres. Foi a época da Revolta da Chibata, da Revolta da Vacina e tantos outros movimentos que contestavam a desigualdade e exclusão social. 
Avenida Central (atual Rio Branco) em 1920



Na área da saúde, o novo governo queria dar uma solução à questão das doenças mentais, considerando o antigo Hospício da Praia Vermelha, inadequado e “depósito humano”. Começaram a surgir discursos pela criação de um hospital afastado do Centro em que os pacientes recebessem as terapias médicas necessárias. Jacarepaguá foi o lugar escolhido.


Em 1924, foi inaugurada nas terras do Antigo Engenho Novo, o novo hospital para tratamento de pacientes psiquiátricos masculinos. Criado com apenas um núcleo de Pavilhões, a “Colônia Psicopatas-Homens” possuía o que a medicina via como de mais moderno nos tratamentos das psicopatias. 


Havia oficinas de Praxiterapia, isto é, oficinas de colchões, hortaliças e oficinas mecânicas, que ajudaria no tratamento dos doentes e na manutenção do hospital. E o Tratamento Hetero-Familiar, onde o paciente considerado apto era acolhido por alguma família de servidores para sua a reinserção social. Para tanto, ao longo das décadas o governo federal realizou a doação de terrenos para a criação de uma vila de moradores. 

           Ao longo dos anos, a Colônia de Jacarepaguá, sofreu diversas melhorias, ampliações de sua estrutura e formas de atendimento. Passou a possuir 4 núcleos de pavilhões, a atender pacientes mulheres, crianças, tuberculosos e os considerados perigosos. A Vila de Moradores aumentou, recebeu escola, oficinas, cinema e rádio. Foi construído o Bloco Médico Álvaro Ramos, onde eram realizadas as psicocirurgias, como a Lobotomia e tratamentos como o Choque Elétrico e a Convulsoterapia por Cardiazol. 



           Até 1954, a Colônia, que já era nomeada Colônia Juliano Moreira, era considerada modelo de Hospital-Colônia pelo Serviço Nacional de Doenças Mentais, órgão do Governo Federal responsável pela execução das políticas públicas na área da Doença Mental. A colônia era a “garota propaganda” do Governo Populista de Getúlio Vargas, recebendo visita de autoridades políticas em diversas ocasiões.




Com a Ditadura Civil-Militar, a situação da Colônia mudou. Ela passou a sofrer com a superlotação, o choque elétrico passou a ser administrado como forma de punição, o número de servidores, cuidadores, médicos e enfermeiros era insuficiente para atender a população de internos. Faltava verba, médicos, comida e roupas. Em contrapartida, a antiga vila de moradores cresceu criando um verdadeiro bairro dentro de Jacarepaguá. A Colônia era um bairro com uma vida própria ao mesmo tempo que havia se tornado o novo “depósito humano” de doentes. 
Bispo do Rosário, artista internado na Colônia.

Nesse cenário, a reforma psiquiátrica ganhou força dentro da instituição. A luta dos servidores por melhorias e pela reformulação das políticas de saúde mental renderam frutos apesar da repressão durante a ditadura. A reforma possibilitou o fim da internação compulsória e a criação do Hospital Dia. Com o tempo, as antigas instalações que ainda funcionavam foram desativadas e em 1996 o hospital foi municipalizado, passando a se chamar Instituto Municipal de Atendimento à Saúde Mental Juliano Moreira (IMASJM).



Centro Histórico da Colônia Juliano Moreira em abandono

Portão principal do IMASJM
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domingo, 3 de junho de 2018



Leonardo Soares dos Santos
Pesquisador do IHBAJA e professor de História


Além dos casos de corrupção e má-gestão nas repartições públicas, o regime militar procurava monitorar nelas o que seus agentes chamavam de “focos subversivos”. Nada escapava desse tipo de crivo: todo funcionário público era um “subversivo” em potencial. E a Colônia Juliano Moreira não fugia a essa regra.

Mesmo porque os militares identificaram desde a década de 60 a existência junto ao Partido Comunista Brasileiro a existência de um “setor médico” vermelho. Tal setor reuniria exatamente militantes (médicos, enfermeiros, nutricionistas, funcionários administrativos) com atuação na área da saúde, principalmente do setor público. Eles estariam espalhados pelos diversos departamentos e repartições que compunham o sistema público de Saúde.

O Documento de Informação nº 39 (22/05/73) do SNI exemplifica bem a grande preocupação dos agentes da Ditadura. Nesse documento intitulado “Comunistas do Ministério da Saúde atualmente na Divisão Nacional de Saúde Mental – DINSAM”, o autor do relatório lista em poucas páginas os nomes e a trajetória dos principais nomes de “agitadores subversivos” atuantes nesse setor. Ele vasculhava a presença de comunistas nos vários órgãos subordinados à DINSAM como o Hospital Pinel, Centro Psiquiátrico Pedro II e no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho e a Colônia Juliano Moreira.

Nesta última o autor do relatório apontava um a um os principais comunistas. O primeiro citado era Célio Assis do Carmo, acusado pelo autor de ter ligações com Washington Loyello, este considerado um “psiquiatra comunista, inteligentíssimo, doutrinador de algumas gerações [...], comunista dos mais importantes no Setor dos Médicos do Partido na Guanabara”.

O segundo nome era o de Raphael Quintanilha Júnior, médico da Colônia, “comprometido com políticos esquerdistas do governo passado (leia-se: governo de João Goulart)”, figurava nos arquivos do SNI como “membro do Conselho Deliberativo da Diretoria anterior da Associação Medica do Estado da Guanabara”, era integrante da “chapa comunista” desta entidade.

O terceiro citado era Antonio Henrique Menezes, advogado, “encarregado de assuntos jurídicos” da Colônia. Pesava contra Antonio as piores “acusações”: teria sido diretor de um jornal sindical, onde em artigo publicado na edição de fevereiro de 1964, “manifestou claramente, as suas ideias de desrespeito às autoridades do País, inclusive às militares, concluindo assim o seu artigo ‘O BRIZOLA ESTÁ CERTO’”. Em 1967 respondeu a um Inquérito Policial Militar por ter instigado “a paralização do Serviço Público, convidando os funcionários para a realização de greves” e por ter feito “publicamente propaganda de ódio de classes, procurando indispor os funcionários civis contra os militares”.

Outro “delito” teria sido a participação em correntes e grupos políticos junto ao movimento estudantil, como quando integrou a aliança entre a União Renovadora (UR) e a Aliança Democrática Universitária (ADU) tendo em vista as eleições para o Diretório Acadêmico Ruy Barbosa na Faculdade de Direito Cândido Mendes. Lembra o agente que a UR foi a ala do PCB “dentro da Faculdade”.

Mas a atitude que mais chamou a atenção do autor do relatório fora a tentativa de Antonio de requerer uma certidão negativa de antecedentes políticos-sociais “para fins de prova ao Ministério da Saúde”. O agente do SNI via nessa atitude mais um ardil do comunista: “muito astucioso, tendo concluído que a Revolução de 64 não permitiu a realização das suas ambições políticas, de parceria com Brizolas e demais comuno-corruptos, pretende agora, anular as suas ações condenáveis, antes da Revolução, e ainda por algum tempo depois da Revolução de 1964, até quando a ‘Comunidade de Informações’ conseguiu tirar a sua ‘fotografia colorida’”.


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sábado, 14 de abril de 2018





Leonardo Soares, professor de História e Pesquisador do IHBAJA



SNI era a abreviação do Serviço Nacional de Informação, órgão criado durante o Regime Militar que se abateu sobre o Brasil durante o período 1964-1985. Ele era responsável pelo levantamento de informações sobre pessoas, grupos, empresas, entidades de classe, movimentos sociais, principalmente aquelas vistas como inimigas em potencial ou em ato do regime então vigente.
Por muito tempo o SNI foi associado quase que exclusivamente ao monitoramento de militantes da luta armada. O que não deixa de corresponder a um aspecto decisivo e preponderante desse processo. Mas o governo militar também procurou investigar outros agentes, em especial os pertencentes ao serviço público em conluio com agentes privados. E nesse caso o interesse recaia não apenas pelos aspectos políticos da militância do servidor, mas também por suposto envolvimento em corrupção. O relatório elaborado por agentes do SNI sobre a situação da Colônia Juliano Moreira em meados da década de 70 é bastante ilustrativo.
Por meio do ofício nº 419/S1, o agente do SNI Edmundo Adolpho Gurgel prestava contas da “Operação Cuca” ao diretor do órgão. A “Operação Cuca” fazia uma referência quase infantil sobre o objeto de sua atuação: o hospital psiquiátrico localizado em Jacarepaguá, a Colônia Juliano Moreira. No relatório 01/75 datado de 18 de Fevereiro de 1975 o agente apontava as principais “irregularidades” ali existentes.
Após um sucinto histórico da Colônia, na época contando com 1.300 funcionários e 5.200 internos, o relatório listava tais irregularidades. Já de início o autor atribuía o “caos na administração daquela entidade” ao fato de ter tido sete dirigentes desde 1973. Para facilitar a explicação, ele organizou o texto em tópicos. No item “Alimentação”, o agente informa que é comum “faltar comida para os internos”. Em dezembro de 1974, “os doentes deixaram de tomar café, durante mais de uma semana, por falta de açúcar.” Mas acrescentava que a Comissão de Habilitação e Licitação da Divisão de Saúde Mental – órgão ao qual a Colônia estava subordinada – cogitava de “entregar” o preparo de refeições ao Grupo Ricardo Amaral, famoso empresário das “noites cariocas”.
No quesito “Vestuário” lemos que “é frequente a troca de roupas individuais e de roupa de cama por bebida alcóolica, maconha, dinheiro e outros materiais, com os marginais que infestam a área.” Quanto aos “Medicamentos” fica-se sabendo que as duas principais “drogas” utilizadas (Luminal e Gardenal) são mal controladas e ocorre “ainda, com muita frequência, faltar remédio para o chamado ‘tratamento de manutenção’”.  Sobre as “Habitações”, o autor lembra que além das casas construídas para funcionários, um grande numero de novas foram construídas irregularmente.
Sobre as “Instalações e Prédios”, o agente informa que alguns deles “estão em completo abandono, sendo utilizados como moradia”. Os saques são uma constante, assim como as portas arrombadas: “Há casos em que os marginais e assaltantes penetram nas despensas e somente misturam os gêneros, a título de brincadeira.” Até o pessoal ocupado da segurança sofria com as péssimas condições físicas do lugar: “os mesmos permanecem, até meia-noite, sentados do lado de fora da portaria. Após este horário, abandonam o posto, indo para suas casas, que estão no interior da CJM. São quase diários assaltos e depredações dentro do nosocômio.”
No que toca aos serviços públicos como transporte  e água, o relatório aponta que uma linha de ônibus faz “uma linha regular”, que tem acesso livre ao interior da Colônia, “dia e noite”, sem qualquer fiscalização.  Sobre a água, argumenta que é muito a comum a falta dela na CJM, “ficando os doentes em péssimas condições de asseio e conforto”. O agente também alerta no item “Maconha e bebidas alcóolicas” para o grande fornecimento desses produtos no lugar: “os marginais invadem o lugar e fornecem maconha aos internos, existindo até ponto, hora e senha para a sua distribuição”. O agente acrescenta ainda o problema da “Permanência desnecessária de doente”. Segundo o resultado de uma pesquisa, dos 4.623 internos à época, 1.299 já estariam em condições de “alta imediata”.
Adolpho Gurgel finaliza o relatório argumentando que a causa primordial de todas essas mazelas se relacionava ao domínio do grupo político que dominava a Divisão de Saúde Mental e por tabela a CJM, e que tinha na figura de Oswaldo Coura o seu principal artífice, a quem estava subordinado o então diretor da CJM Fedra Petrucci.

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quinta-feira, 2 de junho de 2016





* Texto originalmente publicado no Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá, maio de 2016.



Fonte: http://www.guiarioclaro.com.br/materia.htm?serial=151011337 (Baseada na Revolta Negra de Rio Claro em 1888).




A sociedade brasileira foi ensinada por décadas, na verdade, quase que por um século inteiro  que os negros e negras escravizadas foram libertados por uma ação bondosa da princesa Isabel. Assim, o 13 de maio de 1888 e aquilo que representou, a libertação do povo negro, só teria se dado graças a um surto de benevolência do Império (sustentado por décadas pelo suor e sangue daqueles) e das elites brasileiras. Para que houvesse tal desfecho, os próprios "escravos" teriam contribuído nada ou quase nada. Só lhes restando festejar a data e enaltecer pelo feito a “Princesa Redentora”. Nada mais falso.



Pesquisas recentes do campo da História do Brasil têm demonstrado que as lutas efetuadas pelo povo negro cumpriram papel importantíssimo no movimento de derrubada do regime escravocrata. Longe de terem assistido a tudo passivamente, como se apenas lhes restassem torcer pelo sucesso das lutas abolicionistas promovidas – em nome deles – por “homens livres” membros da elite branca, essas pessoas lutaram e sacudiram com o regime, e muito.


Em que pese as limitações e intensa opressão gerada pela condição escrava imposta pelo sistema da época, aqueles homens e mulheres foram agentes de sua própria história, seja fugindo, constituindo quilombos, boicotando ou sabotando a produção, recorrendo à Justiça. Ou seja, se rebelando de diversas maneiras contra aquela condição indigna.

Mas é certo também que tais atos de rebeldia se adensaram exatamente na década de 1880, o que explica em boa medida que a Abolição tenha se dado nesse período. A pressão exercida por aquele(a)s agentes tornava insuportável a manutenção daquele “odioso sistema”.

Foram, felizmente, anos difíceis para os “Senhores de terra e de gente”. Em boa parte do Brasil. Do Rio de Janeiro. Em Jacarepaguá. Ali teve luta, sim. Intensa e vitoriosa. Mais precisamente nas terras do Engenho Novo, nas terras onde hoje funciona a Colônia Juliano Moreira.

Os Arcos da Juliano Moreira


Em 20 de dezembro de 1887, os trabalhadores escravizados dessa fazenda fizeram greve. Isso mesmo: greve! Motivo: estavam fartos de tantos maus-tratos. Assim cruzaram os braços, “visto lhes ser dada ração dobrada de açoites e muito minguada de alimentação”. E prossegue o Diário do Commércio (09/01/1888, p. 3) – jornal de onde extraímos a notícia desse magnífico evento: a greve foi levada por aqueles trabalhadores até o dia 29 daquele mês. E foi de tal vigor, que o “Comendador-proprietário” teve que fugir, até porque, diante de tanta afronta, acabou perdendo “amor aos belos ares da fazenda”.


Sede da antiga fazenda do Engenho Novo. Aqui se escondeu o comendador quando da eclosão da revolta.....
Fonte: http://portaldoarruda.blogspot.com.br/2011/01/juliano-moreira-o-pai-da-psiquiatria.html


Contudo, confirmando a sua índole covarde, o mesmo, durante a fuga, acionou a polícia, “solicitando força para prender dois dos revoltados”.  E então, o comendador-fujão teve que engolir outro revés: a força policial se negou a realizar a repressão desse movimento. Escreveu o Diário: “as praças recusaram-se desta vez ao mister de capitães de matto”.  

Vista do Morro Dois Irmãos, da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/10949077





Vista aérea da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=119896906


Os acontecimentos ocorridos nas terras do Engenho Novo (atual Colônia Juliano Moreira) são emblemáticos: a luta dos escravos era imparável. Ninguém podia mais conter, nem os “Senhores” da elite, mesmo com toda sua empáfia, barbárie, violência e poder. O sistema estava tão desgastado e carcomido, quem nem mesmo a polícia lhe reconhecia legitimidade. Nem ela!

Que acontecimentos. Eles foram, digo, são inspiradores.




Leonardo Soares dos Santos
Pesquisador do IHBAJA e professor de História da UFF (Campos)







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domingo, 22 de novembro de 2015



Uma excelente notícia para os moradores, estudiosos e professores que vivem, pesquisam ou atuam na região da Baixada de Jacarepaguá. Foi lançado em julho o livro “O asilo e a cidade”, coletânea de textos sobre a antiga Colônia Juliano Moreira, sob a coordenação das pesquisadoras Ana Teresa Venancio e Gisélia Franco Potengy.




São ao todo nove capítulos, que abordam o mesmo tema sob pontos de vista diferentes. No primeiro capítulo, o(a) leitor(a) tem a oportunidade de conhecer a história da ocupação do antigo Sertão Carioca, com todos os conflitos a ela inerentes, de autoria de Renato Dória (professor e pesquisador do IHBAJA). O segundo capítulo nos oferece um rico painel da evolução urbana da Colônia, produzido por Renato Gama-Rosa e Ana Paula Casassola Gonçalves. Em “E eu sei doutor?”, capítulo escrito por Janis Cassília (outra professora e pesquisadora do IHBAJA), temos uma excelente análise sobre a experiência da doença e as falas de internos da Juliano Moreira durante a vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas. O quarto capítulo trata das memórias coletivas e identidades sociais na história do Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios, trabalho esse coletivo, concebido por Ana Venancio, Laurinda Rosa Maciel, Anna Beatriz de Sá Almeida, Bruno Dellacort Zilli e Silvia Monnerat.

No capítulo cinco, também construído coletivamente, Anna Beatriz, Ana Carolina de Azevedo Guedes e Pedro Henrique Rodrigues Torres tratam da doença mental e da tuberculose nas mulheres internas do mesmo Pavilhão, entre 1940 e 1973. No capítulo seguinte, as práticas católicas na Colônia são estudadas por Sigrid Hoppe, tendo por base a atuação da igreja da instituição e a festa de São Cristóvão.

O capítulo sete, de autoria de Renato Dória e Leonardo Soares (outro professor e pesquisador do IHBAJA) resgata a história de Jacinto Luciano Moreira, cidadão negro, médico da Colônia e militante do Partido Comunista do Brasil. Sua bela trajetória, entre 1945 e 1962, se revela por meio da consulta de importante conjunto de documentação do fundo da polícia política do Rio de Janeiro. O oitavo capítulo também faz um mergulho na história e nos traz a história da assistência psiquiátrica na instituição durante o governo JK, tema da pesquisa de André Luiz de Carvalho Braga. O último texto é de autoria de Sigrid Hoppe e Gisélia Potengy, que aparecem novamente para falar sobre a identidade e apropriação do espaço no bairro Colônia.

As várias pesquisas presentes no livro contaram com o financiamento da FAPERJ, CNPq e Fiocruz. E os principais acervos de documentação usada por aquelas foram encontradas no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) e no Núcleo de Documentação e Pesquisa do Instituto Municipal de Assistência a Saúde Juliano Moreira da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (IMASJM-SMS-RJ).

É um motivo de orgulho para a sociedade civil da região contar com um estudo como esse, de caráter multi-disciplinar, que ilumina tanto o passado como a atualidade do território, expondo suas contradições, lutas, embates e triunfos, de segmentos costumeiramente marginalizados (internos, “loucos”, pobres, mulheres, negros, comunistas etc.). Conforme enfatizam as organizadoras do trabalho, Ana Venancio e Gisélia Potengy, buscou-se “demonstrar várias formas sociais, pelas quais a Colônia se fez presente na história da cidade do Rio de Janeiro: como expressão de políticas públicas de saúde, das transformações urbanas do espaço que ocupa, dos sujeitos que a constituíram e das representações em torno da loucura que ali circularam.”


IHBAJA


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segunda-feira, 20 de abril de 2015

“Pai dos pobres” e dos enfermos também: As visitas de Getúlio Vargas à Colônia Juliano Moreira

*Janis Cassília
Professora e pesquisadora do IHBAJA
Doutoranda em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz


       É certo e assunto já discutido que o governo getulista do Estado Novo baseou-se na personificação do poder na figura do presidente, tratando-o como figura interessada em salvar a nação. Getúlio Vargas foi considerado o “pai dos pobres”. Por decretar direitos importantes para o trabalhador, como a Consolidação das Leis Trabalhistas. A ele eram endereçados inúmeras cartas pedindo auxílio. Eram solicitações de emprego, viagens, casas, remédios, etc. Uma simples visita do então presidente virava uma manifestação popular e patriótica.
            Assim eram as visitas de Getúlio à Colônia Juliano Moreira. Inaugurada em 1924, durante as décadas de 40 e 50 recebeu incentivo financeiro federal para aumentar suas instalações e transformar-se em centro de excelência no tratamento psiquiátrico. Era o enorme hospital-colônia de Jacarepaguá que abrigava na década de 50 mais de 3 mil pacientes. A cada novo pavilhão, núcleo, hospital, ambulatórios ou outros edifícios e serviços, autoridades vinham para a instituição e realizavam as cerimônias de inauguração. Getúlio era um deles, na verdade, a figura mais importante, a que discursos eram proferidos em homenagem.


“Visitando a Colônia Juliano Moreira, o presidente Getúlio Vargas palestra com um enfermo ali internado” (1941).
Fonte: Anais da Assistência a Psicopatas, 1941, p.21


“O Dr. Adauto Botelho, diretor do serviço de assistência a psicopatas mostrando ao Presidente Getulio Vargas as novas instalações da CJM.” (1941) Fonte: Anais da Assistência à Psicopatas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1941, p. 31.


            Em 1941, por ocasião de inauguração de obras do futuro núcleo Teixeira Brandão (para pacientes mulheres), uma série de cerimônias foram realizadas. A esses eventos compareceram autoridades e familiares, médicos e residentes das localidades próximas. Era uma verdadeira festa, a que personagens geralmente excluídos da sociedade tomavam parte, os enfermos. Fazia parte da propaganda governamental promover tais eventos e por isso não era incomum Getúlio caminhar por dentro da Colônia solicitando informações sobre as condições de vida dos internados. Até conversas com os mesmos eram registradas, isto é, com os doentes autorizados a caminhar pela instituição.       
            Essa presença do então presidente era tão marcante que os próprios internos da Colônia narravam em suas falas. Escreviam à Getúlio como indivíduos consciente de seus direitos como Amália*, internada com o diagnóstico de Epilepsia, que se dirigiu à Cascadura sem autorização médica, e enviou telegrama ao Gabinete do Presidente pedindo sua liberdade. A carta de Amália teve resposta e foi necessário que os médicos convencessem os representantes do Gabinete de que a mesma não poderia obter alta. Muitos ofícios foram trocados entre as instituições para que Amália tivesse alta. Ao presidente cabia aliviar e ajudar o cidadão que pedia auxílio coisa que no caso de Amália não se cumpriu uma vez que com o diagnóstico confirmado, o poder médico se sobrepôs ao poder do presidente.
            O imaginário popular sobre Getúlio Vargas é riquíssimo. Seja como ditador ou como “pai dos pobres”, este presidente adentrou mentes sãs e ditas doentes em sua época. Amália* entre outros são apenas alguns dos internos da Colônia que falavam sobre o governante. Eles eram amantes, mães, amigos, padrinhos, afilhados, filhos, pessoas bem relacionadas com o presidente, que por sua vez intercedia por eles nas suas mentes, e fora delas também.
           


* Todos os nomes aqui mencionados são fictícios para preservar a identidade dos indivíduos. Os casos clínicos aqui mencionados integram a dissertação de mestrado da autora pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Fiocruz.
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