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quinta-feira, 15 de maio de 2025

A História do bairro do Pechincha

Texto de Val Costa sobre a História do bairro do Pechincha no site da Agência Lume.


Leia a íntegra do texto AQUI.

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Seminário “Territórios de memória: Rio das Pedras e a Baixada de Jacarepaguá”

Participação do IHBAJA no seminário “Territórios de memória: Rio das Pedras e a Baixada de Jacarepaguá”, organizado pela Agência Lume, os integrantes do IHBAJA apresentaram a Exposição Itinerante “Vida e luta na Baixada de Jacarepaguá” (23/11/2024).

A exposição apresenta imagens da paisagem e da vida da população de Jacarepaguá durante as décadas de 1940, 1950 e 1960, num momento em que a população rural da região resistia ao avanço acelerado do processo de urbanização.
Com curadoria de Carolina Rodrigues e Gabriel Reis, ambos do Museu Bispo do Rosário, e de Leonardo Soares dos Santos, do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá, a exposição esteve em exibição de abril a outubro deste ano no Museu Bispo do Rosário, no bairro da Colônia. Atualmente a exposição faz parte do acervo do IHBAJA.
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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 A História da ocupação de Gardênia Azul (Parte II)

Leonardo Soares dos santos

Professor de História/UFF

Pesquisador do IHBAJA e do IAP


A vida propriamente dita no Parque Gardênia Azul não era das mais fáceis no início dos anos 60. 


Em sessão da Assembleia Legislativa da Guanabara, o deputado Valdemar Viana (Partido Republicano Trabalhista) apresentou requerimento por “informações indagando porque o proprietário do loteamento ‘Gardênia Azul’, em Jacarepaguá, não respeita a lei 6.000” (Tribuna da Imprensa, 26/01/1961, p. 4).





http://urbecarioca.com.br/um-passeio-pelos-cantos-e-encantos-historicos-de-jacarepagua-parte-1-de-marcelo-copelli/


As queixas dos moradores se multiplicavam. No início de 1962, uma comissão de moradores visitaria a redação do jornal O Globo, “solicitando que divulgássemos os memoriais em que pedem providências ao Governador Carlos Lacerda para irregularidades que afirmam existir” no local. Segundo o “memorial com dezenas de assinaturas, residem 866 famílias, que estão privadas de água, luz, escolas e outras tantas necessidades, pelo que desejam que a administração do Estado constate diretamente tais irregularidades para as necessárias providências” (O Globo, 15/01/1962, p. 14).


O semanário comunista Novos Rumos noticiava no início de agosto de 1962, em matéria intitulada “Moradores do Parque Gardênia Azul vítimas da especulação imobiliária” que eram 600 famílias, “totalizando cerca de três mil pessoas”, tinham se organizado em torno da “Associação Pró-Melhoramentos do Bairro Gardênia Azul” para a defesa de seus interesses. Era, segundo o jornal, o início da “luta contra os danos, que lhes vêm causando comerciantes e corretores de imóveis”.


O jornal detalhava a fundo várias denúncias dos moradores. Segundo o Novos Rumos, os moradores teriam sido vítimas de um “conto”, que foi o que consistiu, segundo o jornal, as promessas oferecidas pela empresa aos compradores dos lotes:

Afirmando aos interessados que a área do atual Parque Gardênia Azul constava do “plano de reloteamento em processo na prefeitura do Distrito Federal, de acordo com planta aprovada sob o numero 18 328, em 24 de julho de 1955” a firma José Padilha Nunes Coimbra vendeu ali dezenas de lotes de terreno para a construção de residência. As operações de vendas e contratos foram feitas por intermédio do corretor Denize Michel Emanuel, estabelecido em escritório na Praça Mauá, 7, quinto andar (Novos Rumos, 3 a 9 de agosto de 1962, p. 7).


Após a compra, segundo o que afirma o jornal comunista, os compradores se deparariam com uma situação totalmente destoante do que havia sido anunciada: 


Acontece entretanto que toda a imensa área não consta de plano algum de urbanização do Estado: ao contrário do que asseguravam os vendedores dos imóveis. Assim as famílias que compraram os terrenos, ou não construíram suas casas ou as construíram e estão morando numa zona sem iluminação, sem rede de esgotos e sem água, uma vez que tais melhoramentos, indispensáveis ao preenchimento de condições mínimas de habitabilidade, não tiveram sua instalação providenciada pelo governo do Estado. Os compradores dos terrenos não escondem sua revolta contra o engodo de que foram vítimas. Muitos deles chegaram mesmo a suspender o pagamento das prestações dos lotes (Idem).


Ainda segundo o periódico, dois quadros políticos ligados ao PCB, o deputado estadual Hércules Corrêa e o jornalista Marco Antonio Coelho, teriam participado de um debate com os moradores da localidade “em assembléia popular”, “para a qual foram convidados”, com o intuito de discutir “problemas referentes à carestia e à necessidade das reformas de base. Junto a questões típicas da militância partidária, o jornal asseverava que os representantes comunistas “ficaram a par da ‘desenvoltura’ com que agiram os especuladores de imóveis contra os moradores da região”, e, garantia o Novos Rumos, ambos “prometeram incorpora-se à sua luta” (Idem). Com esse propósito, Hercules Correa teria solicitado em requerimento apresentado em sessão da Assembleia Legislativa, no dia 17 de julho (o debate ocorreu em 1º de julho), informações ao poder executivo do Estado sobre o Parque Gardênia Azul.


1 – A quem pertencem os lotes agrícolas de números 1 a 11 e de 33 a

49, situados em Jacarepaguá?

2 – A antiga prefeitura do Distrito Federal, hoje governo do Estado da

Guanabara, ao aprovar a planta dos citados lotes (processos número

18.328 de 24 de julho de 1955) que permissão legal deu ao

proprietário dos mesmos?

3 – Quais as providências legais que dispõe o poder executivo para

legalizar a situação dos que residem na área dos citados lotes? (Idem)


Significativo que logo depois desse pronunciamento, a administração estadual se apressasse para apresentar propostas de intervenção na localidade. Até para que o Gardênia Azul não se tornasse facilmente numa espécie de base política dos grupos de esquerda.


Tendo isso em mente, em outubro daquele ano, o governador Carlos Lacerda anunciava a execução de obras de urbanização e saneamento na “favela” Gardênia Azul (A Noite, 03/10/1962, p. 2). O anúncio era um indicador de que as demandas dos moradores encontravam algum eco na esfera governamental estadual. Curiosamente, o reconhecimento de que havia algo de errado nas condições de moradia da localidade era o fato de imprensa e poder público começarem a nomear Gardênia Azul não como um “loteamento” e sim como “favela”. 


Mais do que isso, o anúncio estava relacionado a um importante aspecto conjuntural. O governo Carlos Lacerda iniciava uma campanha agressiva de "remoções de favelas e buscava complementar tal iniciativa investindo na construção de conjuntos habitacionais. Para tanto, ele começou a procurar vultosas fontes de financiamento junto aos órgãos exteriores, especialmente estadunidenses, já que a possibilidade de financiamento por vias internas encontrava-se bloqueado devido às disputas políticas com o governo presidencial de João Goulart, herdeiro do varguismo e adversário político e ideológico do representante udenista. 


Por essa razão, Gardênia Azul poderia cumprir até mesmo um papel nessa nova estratégia de Lacerda, da mesma forma como os conjuntos habitacionais de Vila Kennedy e da Cidade de Deus. Talvez Lacerda enxergasse o local como o destino de pessoas expulsas do Leblon ou Humaitá. O Jornal do Commércio (07/10/1962, p. 7) dava maiores detalhes, que nos ajudam a visualizar melhor o cerne da proposta do governo. A decisão pela intervenção urbanística do governo Lacerda teria como base o “relatório apresentado pela Administração Regional de Jacarepaguá, contendo uma série de sugestões relacionadas com o saneamento e urbanização da favela Gardênia, local que naquele momento abrigava 2.300 pessoas. Segundo o jornal, o administrador Mário Campelo afirmava no relatório “serem ‘péssimas e inferiores ao mínimo tolerável de desconforto’ as condições de vida daquela favela”. O administrador ainda se mostrava pessimista quanto à realização de melhorias por parte do autor do loteamento. Além de explicar as razões de tal pessimismo, ele apresentava ainda uma denúncia quanto à legalidade do empreendimento:


[O administrador Mário Campelo] Ressalta que o proprietário da área ocupada pela favela Gardênia Azul nada faria para executar as obras de urbanização porque: a) venderá os lotes a preços baixíssimos, cujas prestações variam em torno de Cr$ 60 a Cr$ 100 por mês e por terem alguns lotes sido também invadidos; e b) o projeto de loteamento não chegou a ser aprovado” (Idem).


Não obstante a falta de confiança na realização de mudanças efetivas na situação do Gardênia Azul, Mário Campelo apresentava algumas “sugestões” a serem ponderadas:


1) O proprietário deve realizar obras de urbanização; 2) essas obras devem ser fixadas em função do resultado financeiro da venda dos lotes vagos e do reinício do pagamento dos lotes vendidos, paralisado há tempo; 3) deve ser aprovado um projeto de loteamento, modificando o atual, para que os moradores tenham seus títulos de propriedade e, com eles, garantia para efetuar os pagamentos das prestações; 4) o Governo providenciaria também, a curto prazo, para que água e luz cheguem até às portas do loteamento (Idem).


As sugestões seriam consideradas pelo governo. Nota-se que em nenhum momento se aventa a possibilidade de desapropriação. Mesmo que o relatório aponte a possibilidade de irregularidades, nas soluções apontadas pelo administrador regional, o governo teria que estabelecer ações conjuntas com o proprietário. Este seguiria recebendo os pagamentos pelos lotes e ficaria responsável pelas obras de urbanização, sendo que serviços como água e luz ficariam a cargo do governo. Na proposta de Campelo, abria-se até mesmo a possibilidade de refazer o projeto de loteamento. Ou seja, em que pese a gravidade da situação dos moradores, a administração regional seguia considerando o proprietário como um parceiro e não como um antagonista.


Na verdade, o governo Lacerda tinha a intenção de atuar como um intermediário do conflito entre moradores e proprietário (José Padilha). Ainda segundo o relatório, deveria haver “a assinatura de um acordo entre o proprietário e os moradores, com a interveniência da Fundação Leão XIII, pelo qual se fará o controle da receita e a execução das obras fixadas no termo de obrigações, e pelo qual pagará o proprietário à Fundação Leão XIII o valor de seu trabalho” (Idem).


Continua.........

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domingo, 30 de julho de 2023

A História da ocupação de Gardênia Azul: anos 1950



Por Leonardo Soares dos Santos

Professor de História e membro do IHBAJA


O território da Gardênia Azul faz parte do que já foi um dia o Engenho D’Água de Jacarepaguá. Ele pertenceu a diferentes donos ao longo de mais ou menos três séculos - todos eles pertencentes à família Correia de Sá. No século XIX, o então proprietário das terras, o sexto Visconde de Asseca José Maria Correia de Sá, que passava por sérios problemas financeiros, decidiu vender a propriedade ao Comendador Francisco Pinto da Fonseca (pai do Barão da Taquara).


Em meados dos anos 1950, ele constava como sendo de propriedade de José Padilha Coimbra, empresário rico e com bens espalhados por toda a cidade.




https://www.guiajpa.com.br/gardenia-azul/


Em 1953, ele resolve lotear sua fazenda, criando o Parque Gardênia Azul (planta que cultivava à larga em sua propriedade). Tão logo foi aprovado, o projeto do loteamento Gardênia Azul começou a ser anunciado nas páginas dos jornais em 1954.


Tão logo foi aprovado, o projeto do loteamento Gardênia Azul começou a ser anunciado nas páginas dos jornais em 1954. 



Anúncio de venda de lotes no Parque Gardênia Azul na Gazeta de Notícias, 4/12/1954, p. 5.



Carolina Zuccarelli Soares apresenta um importante aspecto da história de ocupação do território em sua dissertação sobre “as diferentes estratégias de  escolarização utilizadas por famílias de segmentos populares na Gardênia Azul”, lembrando que nos primeiros anos, “o pedreiro Severo Silveira Maciel construiu grande parte das casas na região tornando-se, posteriormente, líder comunitário” (p. 53) 


Num verbete sobre o bairro que corre por diversos sites na internet é comum encontrarmos a versão de que a implantação do seu “núcleo” - ou seja, a concretização do loteamento - teria se dado nos anos 60. Mas a história não foi bem essa. A ocupação do território já havia sido iniciada poucos anos depois da aprovação do projeto nos anos 50. Mas, é certo que tudo era muito difícil nos primeiros anos de consolidação do bairro. Sintomática era a forma como o bairro de Gardênia Azul era retratado nas poucas vezes que estampavam alguma nota nas páginas da imprensa carioca. O território aparecia muito associado a um local perigoso, violento, vicioso e refúgio de criminosos.


Em oito de agosto de 1955, o Diário da Noite estampava na página 10 a notícia de um sério conflito entre vizinhos no “Parque Gardênia Azul”, ocasionando um “ferimento penetrante no occipto-frontal” de Carlos Chagas Alvaro, na época com 25 anos. Segundo a reportagem, Carlos morava na “quadra 13, lote 10”. A contenda com os seus vizinhos Antonio Ribeiro de Oliveira e Domingos Lopes de Oliveira, teria sido motivada por “uns centímetros de terra”. Assim, no “auge da discussão, os dois, empunhando foice e enxada, respectivamente, o agrediram, após o que Antonio conseguiu fugir, sendo o outro detido pela guarnição da Patrulha 5”.


Ainda no final da década de 50 pululavam pelo noticiário carioca dando conta da ocorrência desses fatos. Em cinco abril de 1958, o Última Hora noticiava a morte a foiçadas de “Cachaça”, apelido do operário Jocelino Gomes de Sousa. Eis o que relatava a reportagem “Abatido a Foice no Parque Gardênia Azul”:


Seriam pouco mais de zero hora de sexta-feira quando o operário Rubem Silva (Rua “D”, sem número, Parque Gardênia Azul) ouviu forte discussão entre duas vozes masculinas e a seguir um baque surdo de algo caído. Mas como fôsse tarde e o lugar abandonado de policiais, foi dormir. Pouco depois era acordado pelo Comissário Nogueira Guedes, do 26º Distrito, que investigava o assassinato de Jocelino Gomes de Sousa, vulgo “Cachaça”, operário, casado, morador à Estrada da Água, 45. Segundo ficou apurado a vítima havia sido assassinada possivelmente a golpes de foice, pois apresentava dois profundos ferimentos na cabeça e pescoço. Ninguém que pudesse dar informações pelas redondezas, afora a testemunha já citada. O corpo fóra achado pelo motorista de praça Maurício Cesar de Andrade (Conselheiro Rubens de Melo, 581, Jacarepaguá), quando voltava da residência de um freguês. Foi pedido o auxílio da perícia e da Polícia Técnica, tendo comparecido por esta última, o Detetive Nielsen Kauffman. O autor do homicídio é inteiramente desconhecido (p. 8)



Mas para o que nos interessa aqui, muito mais importante do que analisar a associação que a imprensa faz da região como um espaço perigoso, é observar que muitas das pessoas citadas nas reportagens já moravam na região. A briga envolvendo Antonio Ribeiro e seus vizinhos em 1955, o assassinato de Jocelino em 1958, as testemunhas arroladas - todos eles moravam em Gardenia Azul, num determinado lote, inserido numa quadra e rua. O loteamento já estava sendo ocupado desde então. Porém, era uma ocupação precária em seu conjunto. As condições de vida na região eram difíceis.


Diante de tantos problemas observados, um fato novo começa a ganhar corpo na cobertura jornalística sobre o bairro. Desde o início dos anos 60, vários jornais passam a noticiar declarações de personalidades políticas em favor de melhorias no Gardênia Azul. Em maio de 1960, por exemplo, o então deputado federal pelo PSB Breno da Silveira teria ido “cobrar do Governador as promessas feitas ao povo carioca”, entre os pedidos constava a demanda por “água e luz para o bairro Gardênia Azul, hoje transformado pelo abandono, num antro de viciados em maconha e outros vícios”, complementava o Última Hora (30/5/1960, p. 2).


Após os primeiros anos de consolidação, a luta pela melhoria das condições de moradia seria o grande desafio dos anos 1960. E o crescente interesse de lideranças políticas sobre o assunto foi um importante sinal. 


Trataremos disso no próximo artigo.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


“Gardênia Azul”. Disponível em: https://www.guiajpa.com.br/gardenia-azul/. Acessado em: 28/07/2023.


SOARES, Carolina Zuccarelli. Segregação urbana, geografia de oportunidades e desigualdades educacionais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Tese (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2009.


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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023


Organizações camponesas em Jacarepaguá:

o caso da Caixa Auxiliadora dos anos 1920


Por Leonardo Soares dos Santos

Professor de História e membro do IHBAJA



Não foram poucas as organizações camponesas que brotaram na Baixada de Jacarepaguá entre os anos de 1940 e 1960. Associações de Lavradores, Associações Rurais, e até mesmo Ligas Camponesas deram as caras na região, reunindo as demandas e aspirações de posseiros e pequenos lavradores. Por meio delas tais agentes buscaram fazer frente às tentativas de despejos encetadas por grandes companhias imobiliárias, bancos e pretensos proprietários individuais. Esse processo atingiu seu clímax na virada da década de 50 para 60. Imensos loteamentos varreram a região, destruindo terras antes voltadas para a produção agrícola.

 

Mesmo antes, em meados da década de 20, alguns lavradores buscaram constituir entidades para a defesa de seus interesses. Foi o caso das caixas beneficentes. Magalhães Corrêa, naturalista que se dedicou a desbravar a região do Sertão Carioca (a zona rural do município do Rio de Janeiro) menciona a existência de uma certa Caixa Auxiliadora Beneficente dos Lavradores de Jacarepaguá e Guaratiba (CORRÊA, 1936. p. 186). 


Como contava o naturalista, tal associação teria sido criada por Maurício de Lacerda, vereador carioca, e notória liderança anarquista da cidade. A Caixa tinha como principal finalidade contribuir com os lavradores na sua disputa contra grandes proprietários da região. Os lavradores estavam sendo ameaçados de despejo. Aqui se revelava uma questão que atuaria grandemente na mobilização dos pequenos lavradores da região pelas décadas seguintes: a questão fundiária seria mais premente do que as questões estritamente econômicas.


Podemos encontrar vários registros de suas atividades na imprensa carioca de esquerda. O Trabalho e Capital (“Actividade Proletaria”, 18/02/1928, p. 1) dava conta de uma assembleia ocorrida em fevereiro de 1928. Entre os assuntos tratados constava a prestação de contas da entidade pela tesouraria, “que acusou saldo recolhido no Banco Ultramarino”. Na “ordem do dia” figurava a eleição da “nova Directoria e inauguração do retrato do Sr. Mauricio de Lacerda em sua sede social”. 


Após a eleição da nova diretoria, Manoel Carvalhaes (reeleito presidente da Caixa), Maurício de Lacerda e J. Cruz discursaram. O primeiro rendeu elogios ao segundo, patrono da entidade, afirmando que enquanto a Caixa Auxiliadora “tiver os abnegados sócios que tem e o patrono que a assiste, poderá prestar grandes serviços aos proletários do campo”. 


Já Lacerda lembrou que se “hontem a luta era contra um banco, que disputava a terra aos lavradores, hoje deve se secundar na resistencia ao fisco, que arranca dessa terra, assim conquistada, o producto do trabalho camponez”. E também concitava os “lavradores a formar associações de classe para essa luta contra os tributos, defendendo-se de quem lhe suga o suor”.  


J. Cruz em sua fala procurou mostrar “o valor da solidariedade, dizendo que a Caixa que deu as terras a todos dará agora as garantias a cada um dos seus direitos”.


E finalizava o jornal: “Terminando esse discurso, que foi longo, expressivo, arrancando aplausos nas passagens principalmente em que pedia a união o espírito de organização, encerrou-se a sessão, às 15 horas e 45 minutos”.



Referência bibliográfica:


Corrêa, Armando Magalhães. O sertão carioca. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936. (Originalmente escrito durante durante o ano de 1933).




A CAIXA AUXILIADORA DE JACAREPAGUÁ E GUARATIBA NOS JORNAIS





MAURICIO LACERDA


Crítica, 01/02/1928, p. 3
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segunda-feira, 18 de novembro de 2019


JACAREPAGUÁ, IMAGENS DE UM TERRITÓRIO RURAL E NEGRO

Por Leonardo S. Santos



O acervo de imagens que se encontra localizado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro é uma fonte valiosa de documentos sobre um passado cada vez mais distante da Baixada de Jacarepaguá. As fotografias antigas sobre as paisagens física e humana da região são verdadeiras fontes
históricas, de inestimável valor material e imaterial.


  Atual Recreio. Fundo: DNOS/Arquivo Nacional.


  Atual Recreio. Fundo: DNOS/Arquivo Nacional.


Temos ali sob nossas vistas imagens vivas de um perfil rural, com suas criações de animais, lavouras e pomares cobrindo quase que toda a extensão da baixada, os primeiros núcleos urbanos. Tudo isso aparece num riquíssimo conjunto de fotografias e negativos reunido pelo Arquivo Nacional a partir de diferentes fundos (instituições que produziram as imagens). Os principais fundos são o extinto jornal Correio da Manhã, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (o antigo DNOS), Serviço Nacional de Informação (SNI), Agência Nacional e Ministério da Saúde.

Para além dos aspectos geográficos e naturais, as imagens revelam antigas atividades econômicas que antes vigoravam (agricultura, pesca, pecuária), formas de sociabilidade (vendas, armazéns, festas religiosas) e os agentes sociais que viviam e na região.      



 Um tapete de lavouras. Fundo: DNOS/Arquivo Nacional.

  Praia da Barra. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Praia da Barra. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Praia da Barra. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Praia da Barra. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.


Praia da Barra. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.


Fazenda da Restinga. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Exploração de Turfa na antiga Pedra da Panela. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Exploração de Turfa na antiga Pedra da Panela. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Exploração de Turfa na antiga Pedra da Panela. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Exploração de Turfa na antiga Pedra da Panela. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Canal do Anil, quando era limpo e navegável. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.

Exploração de Turfa na antiga Pedra da Panela. Fundo: Correio da Manhã/Arquivo Nacional.




Outro acervo de extrema relevância histórica é o do também extinto jornal Última Hora, que se encontra sob a guarda do Arquivo Público do estado de São Paulo.

Um dos aspectos a serem destacados, como algumas imagens atestam, é o predomínio da população negra nos territórios da Baixada de Jacarepaguá. E essa marca é de grande relevância para a conformação histórica da região. Uma marca que deve ser cotidianamente celebrada e politicamente valorizada.


Trabalhadores da Fazenda da Restinga. Fundo: Última Hora/Arquivo Público do Estado de São Paulo.


Tal traço étnico da região é também visível em algumas fotografias do acervo do Arquivo Nacional. Temos aqui uma comprovação dos relatos da década de 1930 do naturalista Armando Magalhães Correa, que em seu O Sertão Carioca já dava conta da grande pesença negra na Baixada de Jacarepaguá. 

E, importante destacar, os próprios pesquisadores do IHBAJA tem se dedicado a estudar esse importante aspecto de nossa história. Falo dos trabalhos de Julio Doria e Renato Doria, dois promissores pesquisadores da região.


Entrada da Gardênia Azul. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.















































































































Trabalhadores (todos negros) da exploração de turfa na fazenda da Restinga.
Na área onde fica atualmente o aeroporto da Barra. Fundo DNOS/Arquivo Nacional.  
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