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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A rede de organizações comunistas de Jacarepaguá


Boa parte da historiografia que tratou de revisar a história das esquerdas no país, com maior ênfase no Partido Comunista do Brasil (PCB), buscou com uma obstinação assustadora provar que se havia algo que essa corrente não gostava, esse algo atendia pelo nome de "povo". Queria-se com isso afirmar que os nossos grupos de esquerda tinham pouco ou pouquíssimo apreço pelo trabalho junto ás bases populares, preferindo ditar regras e normas sobre a verdadeira consciência de classe atrás de suas escrivaninhas e á frente de pilhas de empoeirados tomos de vulgarização do marxismo editados pela escola soviética (e stalinista) de ciências. Mas as pesquisas mais recentes, baseadas maciçamente na apuração de documentos de época, têm revelado uma faceta bem mais interessante – e muito menos caricata – dos militantes e das organizações que pertenciam ao antigo PCB.

E vale lembrar que os comunistas tiveram passagem marcante, embora pequena, na região de Jacarepaguá. Atuação esta que remonta ao período em que o bairro era ainda quase que totalmente agrícola, desde os anos 30. Algumas células da Aliança Nacional Libertadora (ANL) são dessa época. O próprio perfil agrário do bairro, que era caracterizado por um certo isolamento do local, favorecia a realização de atividades de “agitação e conspiração” de maneira mais tranquila e sossegada – ao menos teoricamente.



Casa do Tanque onde eram realizadas reuniões da célula comunista local


A partir dos anos 40, mais precisamente no ano de 1945, com a volta do Partido à legalidade, alguns de seus quadros viam em Jacarepaguá um lugar de grande potencial para a montagem de uma rede sindical vermelha na zona rural da cidade. Além disso, a crescente expansão urbana produzia consequências ambíguas: se de um lado aumentava a demanda por serviços públicos urbanos (estradas, ruas, calçamentos, luz, água, postos de saúde etc.), por outro, tal expansão colocava em risco a agricultura do lugar. Todavia, não restava dúvida que eram situações de grande potencial conflitivo e os comunistas viam nisso uma excelente oportunidade de marcar posição junto aos habitantes do bairro. Na verdade começava ali, com grande participação do PCB, um amplo processo de criação de movimentos locais que demandavam por melhorias nos diferentes bairros.


Outra sede de reuniões


E seria nesse contexto que o Partido criaria os Comitês Populares Democráticos (CPD), que seguiam a chamada política de massas do “partido de Prestes”.  Notem que aqui não passava pela cabeça de ninguém fazer algo sem o prévio processo de politização das classes populares. E, detalhe, não se está falando aqui de algo como uma revolução – mas tão somente uma ação em prol da construção de uma bica d’água ou do conserto de uma calçada -  que era algo geralmente em falta em Jacarepaguá naqueles anos 40, quase 50 (e ainda seguiria faltando por várias décadas afora).


Neste endereço (início da estrada do Gabinal) foram realizados alguns eventos da Liga Camponesa de Jacarepaguá




Com esse propósito, militantes do PCB como o cearense Pedro Coutinho Filho, o médico Jacinto Luciano Moreira e ativistas como Waldyr Moura e Antonio Caseiro montaram algumas organizações que tinham como objetivo específico prover serviço jurídico aos seus associados, lutar pelas melhorias no bairro e organizar eventos como assembleias, palestras, mesas-redondas e até festas e churrascos (quem é de ferro?).

Esses eram os temas tratados nos vários CPD’s criados pelos comunistas, assim como na Liga Camponesa de Jacarepaguá, nas inúmeras células (23 de Outubro, Ajuricaba), nas Uniões Femininas e nas Comissões pela Paz.



Leonardo Soares é historiador do IHBAJA e professor da UFF
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015




Não é de hoje que as terras da região de Jacarepaguá (em especial as da Barra da Tijuca) são escandalosamente roubadas, em plena luz do dia, sob as barbas dos poderes públicos. Na verdade, a história dessa área revela um processo incessante de esbulhos, falcatruas cartorárias e atentados contra a vida humana, por conta das inúmeras disputas envolvendo a posse e a proriedade da terra. E isso desde os tempos dos clãs dos Assecas e dos Sás, e com a intermediação nada sagrada de algumas ordens religiosas (estas também grandes senhoras e possuidoras de terras).

E a coisa só piorou no período imperial e – pasmém – republicano. E no século XX a questão ganhou contornos mais dramáticos. Já que se nas épocas anteriores, a violência só atingia apenas as famílias diretamente envolvidas nas disputas, a partir de meados do século XX a sanha das loteadoras passa a visar a expulsão de centenas de famílias de uma mesma área e de forma indiscriminada.

Na antiga zona rural da cidade do Rio a expansão urbana fez inúmeras vítimas. De Santa Cruz a Jacarepaguá, vários casos de dor e sofrimento de famílias de pequenos lavradores dão testemunho do processo criminoso de expoliação que varreu a agricultura carioca. Na área de Vargem Grande e Vargem Pequena os lavradores eram obrigados a aceitar “um contrato com cláusulas medievais” do Banco de Crédito Móvel. O Radical noticiava em agosto de 1950, que as Companhias Tijucamar, Barra da Tijuca AS e Lagoamar AS agiam na Restinga de Jacarepaguá (atual Barra da Tijuca) para “negociar” terras que não lhe pertenciam. Por conta disso, “posseiros trintenários eram desalojados a mosquetão e a sevícias” por “capangas armados até os dentes”.

Sem esquecer da Fazenda Santo Antônio de Curicica (Jacarepaguá). Os primeiros embates entre lavradores e pretensos proprietários a chamar a atenção da imprensa datam do início da década de 50. Em 1952, por exemplo, os senhores Júlio César Fonseca e Gustavo de Carvalho (pretensos proprietários) conseguiram uma ordem de despejo contra cerca de 120 famílias que, assim diziam, trabalhavam ali há mais de 30 anos. Outra exigência foi encaminhada ao prefeito no sentido de que esse designasse uma comissão composta de três engenheiros para proceder ao “levantamento da área”. A luta desses lavradores era bem mais antiga: há 17 anos pelo menos, muitos deles vinham depositando as taxas de arrendamento em juízo. Em 1947, a Cooperativa de Agricultores de Jacarepaguá e a Liga Camponesa de Vargem Grande já mobilizavam esforços para tratar da “ameaça de expulsão” de 46 lavradores na Fazenda Curicica. Mas nesse momento, as salas dos tribunais já não eram suficientes para comportar por inteiro os embates entre os lavradores, que se diziam responsáveis pelo abastecimento de 40 toneladas diárias de legumes, frutas e verduras aos mercados do DF, e os “grileiros” Júlio César Fonseca, Luiz Saddy, o Banco de Crédito Móvel, a Cia. Bandeirantes e o Banco de Crédito Territorial, acusados de se valerem “de documentação falsa e de outros meios escusos” para satisfazerem seus intentos - afirmava o’ Radical em 1954. “A luta pela posse da terra está mais acêsa e mais violenta em Jacarepaguá” – noticiava com certo entusiasmo o jornal comunista Imprensa Popular em julho de 1954. Lendo as declarações de alguns lavradores, é possível perceber que as disputas em torno da posse da terra já não tinham o recato e comedimento exigidos por uma disputa jurídica. Ao contrário, os últimos acontecimentos davam força à idéia da história de Curicica como tendo sido feita “de sangue, violências e desumanidades”. O aumento da violência era atribuído por lavradores e imprensa à aplicação de uma tática agressiva por parte dos pretensos proprietários. Segundo nos conta o Imprensa Popular, em meados dos anos 50 “o grileiro César Augusto da Fonseca conseguiu trampolinescamente(sic) ampliar uma área de 535 mil para quase 5 milhões de m² a poder de tapeações, crimes e tocaias”.


Agora há que se perguntar: vendo o que hoje está sendo feito pelos poderes públicos e as empresas (e empreiteiras) que financiam suas candidaturas, no sentido de despejar e destruir a vida de moradores de “ocupações” que estão no “meio de caminho” dos grandes eventos: alguma coisa mudou? Ou a história que teima se repetir?


Leonardo Soares é pesquisador do IHBAJA e professor da UFF.


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domingo, 24 de agosto de 2014

Participação de membro do IHBAJA em mesa redonda do Aldeya Yacarepaguá em Setembro

No dia 23 de setembro de 2014, às 15h, Valdeir Costa, membro do IHBAJA participará de mesa redonda sobre a História de Jacarepaguá no Aldeya Yacarepaguá realizado pelo SESC.  A mesa reunirá dois escritores: Carlos Araújo, autor do livro “Jacarepaguá de antigamente e Rio de Janeiro – um pouco de sua história”, e Val Costa, autor do livro “Desvendando a Barra da Tijuca e Jacarepaguá”, escrito em parceria com Luciana Araujo. O historiador Michael Carneiro, primeiro presidente do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá, fará a mediação da conversa acerca dos processos históricos da região de Jacarepaguá registrados em ambos os livros.
Local: Espaço Cultural Escola SESC - Auditório - 120 minutos - classificação 14 anos.
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A Escola 7-19, ter ou não ter uma escola dentro da Colônia Juliano Moreira.


Janis Cassilia
Professora e pesquisadora do IHBAJA
               
Durante muito tempo perguntou-se se a loucura era “contagiosa”. Estar próximo de loucos podia prejudicar a mente sadia? Na história da psiquiatria brasileira, alguns médicos defenderam a ideia de que ao invés de se isolar o doente, deveria-se reinseri-lo na sociedade. A Colônia Juliano Moreira nasceu com esta ideia.
                Fundada em 1924, a Colônia Juliano Moreira, tinha como terapêutica o tratamento hetero-familiar, o convívio controlado dos pacientes em um "ambiente social sadio". Para isso foi criada um vila de moradores, isto é, aqueles considerados “bons funcionários” e suas famílias eram convidados a residirem dentro da propriedade, ganhando terrenos para construírem suas casas. Esse foi o embrião do atual bairro Colônia. Com o tempo essa vila de moradores cresceu e começou a reinvindicar melhorias no transporte, luz urbana, calçamento e estradas, parque, creche e escola. Parte dessas reinvidicações foram atendidas pelo Governo Federal. Uma delas foi a criação da Escola 7-19, em um pavilhão, para atendimento dos filhos desses funcionários.
                A Escola 7-19, hoje (Escola Municipal Juliano Moreira) encontra-se em outro prédio, logo na entrada da Colônia, no ex-pavilhão de atendimento a crianças e adolescentes do sexo masculino. Mas em 1943, o pavilhão utilizado, apresentava sinais de desgaste, além de um número de alunos que não pertencia à comunidade interna da Colônia. A escola cresceu e ganhou mais professoras. De fato, Jacarepaguá, era bastante deficiente em escolas. Segundo uma estimativa da época eram necessários 35 escolas para suprir a população da região. Mas qual a particularidade da Escola 7-19? Ela fez parte de um movimento social dentro da Colônia. Os hospitais psiquiátricos possuem como característica a “morte social” do paciente. Eles perdem suas famílias, amigos e identidades; passam a ser identificados e rotulados por números e diagnósticos. Para reinseri-los na sociedade, os dirigentes da instituição psiquiátrica criaram essa vila, onde os pacientes eram recebidos por famílias que conheciam seus temperamento, gostos, fobias, manias, diagnósticos e histórias de vida.
                Para os moradores, a existência dessa escola era vista por uns como problemática e por outros como justificável. Na Mesa Redonda  promovida pelo Jornal “Diário de Notícias” em 1943 e com a participação de personagens de destaque do Rio de Janeiro, a grande discussão girava na inconveniência da localização da 7-19. A Sra. Dyla Sá (educadora) relatou que uma das professoras ficou doente diante das cenas que presenciou. Ela se posicionou contra a existência dessa escola. O sr. Válter Rocha Miranda alertava que a escola servia apenas para funcionários, mas o Sr. Edmundo Melo declarava que a maior parte dos alunos não eram filhos de funcionários. Um funcionário da Colônia, de nome Bento Monteiro, afirmou que se os médicos não viam inconveniências na existência da escola porque eles veriam? A reportagem mostra como era a visão da loucura e a relação entre psiquiatras e moradores. Nem sempre a decisão médica era vista como benéfica. Como poderiam alunos inocentes conviver com loucos? Deveriam transferir a escola de local?



Jornal Diário de Notícias noticiando a mesa rendonda em Jacarepaguá em 1943.

           Outros problemas foram levantados: a falta de condução para as professoras, o funcionamento da segunda série escolar em um galpão improvisado, e a promessa de novas instalações para a escola. Mas a questão da Escola 7-19 estar dentro da Colônia foi muito forte. Diversas opiniões foram ouvidas, sem se chegar à um consenso. Ainda que tenha mudado para outro prédio, mais adequado às suas funções, a Escola 7-19 atravessou as décadas e deu origem à Escola Juliano Moreira. Passou a atender oficialmente alunos de fora da Colônia. Com a chegada da década de 1970 e a Reforma Psiquiátrica,algumas das antigas instalações da Colônia foram sendo desativadas e a internação passou a diminuir. O número de moradores aumentou, passando seus filhos a serem alunos da antiga Escola 7-19, outrora pioneira na promessa do tratamento da doença pelo convívio com as “boas famílias” da Colônia Juliano Moreira.




Fachada da Escola Municipal Juliano Moreira. Retirado do site: www.rioeduca.net
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domingo, 27 de julho de 2014

Por Leonardo Soares dos Santos*

Por conta da II Guerra Mundial, as Copas de 1942 e 1946 foram suspensas. O mais beneficiado com a conflagração acabou sendo o Brasil, que por conta da quase aniquilação física e material da Europa foi instado por Jules Rimet a  sediar a Copa de 1949. Isso mesmo, a Copa se daria nesse ano e não em 50. Mas, devido a atrasos nas obras(!), o governo pediu que o evento fosse adiado em 1 ano. A FIFA prontamente acatou. Nem preciso dizer que todo o processo de construção dos estádios foi marcado na época por grandes denúncias de desvio, superfaturamento e atraso. Para se ter uma idéia, nenhum estádio foi entregue pronto. E muita gente, mas muita gente mesmo, reclamava pelo fato do governo gastar tanto num “evento esportivo”, com escolas e hospitais caindo aos pedaços….. (Careta, 1/11/47, p.16) O “povo antes de fazer ginástica precisa de alimento”, tascava O Malho em sua edição de fevereiro de 1948.


Mas nenhum estádio causou tanto rebuliço quanto o principal deles – o Maracanã. Por muitas semanas muitos temeram que ele tivesse um outro destino. E um personagem que tanto marcaria os destinos do país muito lutou para que isso ocorresse.


Assim que a Copa do Brasil foi confirmada, uma das primeiras providências foi projetar um estádio para a então capital da república. Depois de estudos sem qualquer transparência decidiu-se construí-lo no local do antigo Jockey, também chamado de Derby Club, às margens do rio Maracanã. Nascia então o projeto do Estádio Municipal – e esse era o seu nome. Só faltava a famosa verba orçamentária, que em bom português brasileiro significa – dinheiro arrancado do bolso dos contribuintes. Tudo corria bem até o então prefeito Mendes de Morais levar tal demanda à Câmara Municipal. Os governistas quiseram empurrar goela abaixo o projeto sem maiores discussões. Mas para seu azar, um jovem vereador da UDN começava ali sua trajetória, marcada pela virulência de seus discursos e posicionamentos – integralmente anti-governistas e de direita. Estamos falando de Carlos Lacerda. E uma de suas primeiras cruzadas foi lutar contra o Maracanã.


Outros eram mais radicais, como Tito Lívio, também da UDN, que era contra a construção de qualquer estádio. Mas Lacerda não. A partir da constatação dos absurdos gastos que se desenhavam, ele aproveitava para propor a retomada do antigo projeto de construção de um estádio olímpico em Jacarepaguá, de autoria do engenheiro Antonio Laviola. O estádio teria capacidade para cerca de 150 mil pessoas, beirando a lagoa de mesmo nome. O udenista via nisso a possibilidade de impulsionar a urbanização da antiga zona agrícola. Até porque o projeto previa a construção de loteamentos urbanos, uma estação de trem, uma Vila Olímpica. E de quebra, o projeto de Laviola era muito mais em conta. Mas a proposta de Lacerda foi muito mal recebida, Jacarepaguá ainda era vista como uma roça, incompatível para receber um estádio moderno.



E nisso se bateram os parlamentares defensores da localização no antigo Derby. E ainda contaram com a entusiástica campanha de Mario Filho, irmão de Nelson Rodrigues. Pelas páginas d’O Globo ele organizou um verdadeiro movimento pró-Derby (Maracanã): o bombardeio contra Lacerda era diário. Fato que contribuiu para que, décadas mais tarde, o estádio recebesse oficialmente o nome de seu ardoroso defensor, como forma de homenagem, embora popularmente sempre fosse chamado pelo nome do rio que o margeava.



Mas por alguns meses o homem que mais tramou golpes nesse país ameaçou mudar o destino do “maior do mundo”. Se tivesse mais sorte, o estádio tinha tudo para ser chamado popularmente de Jacarepaguá (nome da lagoa que o margearia), e em termos oficiais seria o Estádio Municipal Governador Carlos Lacerda. A História e seus ardis – já dizia o velho Hegel.
* Leonardo Soares dos Santos é pesquisador do IHBAJA e UFF .
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terça-feira, 15 de julho de 2014

IHBAJA participa das atividades do Jubileu de Diamante da E.M. Pio X


O Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) marcou presença nas comemorações do Jubileu de Diamante, sessenta anos (60) de existência da Escola Municipal Pio X. As atividades ocorreram no dia nove (9) de abril de 2014, no auditório da própria escola, situada à rua Serra Negra, № 103, no bairro do Tanque.

A E. M. Pio X é uma das mais tradicionais e antigas instituições de ensino público de Jacarepaguá e foi inaugurada em 15 de Agosto de 1954 pelo Presidente da República Getúlio Vargas.

Várias atividades foram organizadas pela Direção e a Coordenação educacional da escola, que contou também com o apoio de professores e estudantes. O IHBAJA foi convidado e foi representado pelos professores Val Costa e Renato Dória, que ministraram duas palestras sobre a História da Baixada de Jacarepaguá para os alunos do 9º Ano.
Professor Val palestrando
Val abordou o processo de ocupação da região, da Pré-História até o século XIX, enfatizando a valorização do Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico. Já Renato apresentou um histórico das transformações sociais e econômicas que a região de Jacarepaguá sofreu ao longo do século XX, abordando o período rural, quando a região integrava o antigo Sertão Carioca e as lutas por direitos sociais e cidadania ocorridas no contexto de intervenções urbanas mais recentes.
 
Professor Renato palestrando

Os pesquisadores e professores do IHBAJA entendem que o conhecimento histórico sobre a região de Jacarepaguá não deve ficar restrito ao meio acadêmico e atua fortalecendo e incentivando atividades que visam difundir este conhecimento aos moradores da região. É uma forma de contribuir para a formação do pensamento crítico, da identidade cultural e da valorização das experiências históricas da população de Jacarepaguá.


Texto: Renato Dória e Val Costa
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IHBAJA e JAAJ marcam presença em evento de Agroecologia em Vargem Grande e Vila Autródromo

 
Entre os dias 19 e 21 de novembro de 2013, foi realizada a Caravana Agroecológica e Cultural do Rio de Janeiro, evento organizado por diversas entidades, instituições e movimentos sociais que fazem parte da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ). A organização de "Caravanas Agroecológicas" estaduais foi a metodologia definida para preparar, nos diversos estados do país, um encontro maior: o III Encontro Nacional de Agroecologia, realizado em maio de 2014, em Juazeiro, Bahia. 


Visitação à Vila Autódromo. Concentração dos participantes da Caravana para o café da manhã.

 
Na Caravana Agroecológica do Estado do Rio de Janeiro ocorreram diversas visitas a locais de experiência agroecológica e da pequena agricultura familiar, trocas de experiências, plenárias, cantoria e outras atividades culturais, como as feiras de alimentos típicos dos lavradores de várias regiões do estado e da cidade do Rio de Janeiro, principalmente da Baixada de Jacarepaguá. 
 
 
Visita à horta urbana e agroecológica da Vila Autódromo pelos integrantes da Caravana do Rio.
O destaque foi para a atividade de visitação à horta urbana de Vila Autódromo, favela titulada da região que resiste às tentativas de remoção por parte da Prefeitura há mais de 30 anos e reivindica a urbanização da comunidade. Outra presença digna de nota foi a dos lavradores de Vargem Grande, que se organizam há nos na Agrovargem, e que realizam um maravilhoso trabalho junto à direção da E. E. Teófilo Moreira da Costa, fornecendo alimento orgânico e da agricultura familiar para aquela escola e toda região de Jacarepaguá. Assim, a Caravana Agroecológica do Rio cumpriu seu papel fundamental: dar visibilidade para as experiências de resistência da agroecologia na região.
 
 
Barraca da Rede Carioca de Agricultura Urbana em Vargem Grande, organizada pela Agrovargem. Fica próximo ao Largo de Vargem Grande.
 
E o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) e o Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá (JAAJ) estiveram presentes nas atividades dessa caravana, realizado na Vila Autódromo e no Largo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vargem Grande. O evento, ocorrido no feriado do dia da Consciência Negra do ano passado, 20/11/13, foi uma troca de experiências entre pequenos agricultores urbanos do Rio de Janeiro e diversos movimentos sociais que apoiam a luta por uma alimentação digna, livre de agrotóxicos e da exploração do homem pelo homem.





Concentração de participantes da Caravana Agroecológica do Rio de Janeiro no Largo de Vargem Grande. Falando à plateia, o diretor Carlos Motta da E.E. Teófilo Moreira da Costa e lavradores da Agrovargem.
Os professores-pesquisadores do IHBAJA Renato Dória e Val Costa participaram das atividades e apresentaram uma exposição de fotos do patrimônio arquitetônico e cultural da Baixada de Jacarepaguá e imagens do livro “O Sertão Carioca”, uma obra rara e leitura obrigatório para todos os que se interessam pela história da região.
 

Professor Val na banquinha do IHBAJA com a exposição de fotos do Sertão Carioca e do Patrimônio Arquitetônico de Jacarepaguá


Texto: Renato Dória e Val Costa
Fotos: Val Costa, Carlos Motta e Aparecida Mercês
 
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sexta-feira, 28 de março de 2014

IHBAJA participa de evento Cultural de Resistência Quilombola organizada por moradores da comunidade do Alto Camorim



No último domingo, 23 de março, ocorreu uma atividade de inestimável valor histórico e cultural no bairro do Camorim, na Baixada de Jacarepaguá: foi o Evento de Resistência Cultural Quilombola da Comunidade do Alto Camorim. Realizada pelos moradores da comunidade do Alto Camorim, teve o apoio da Rede Carioca de Agricultura Urbana, Instituto PACS (Políticas Alternativas para o Cone Sul) e da administração da Igreja São Gonçalo de Amarante, construída em 1625 e que cedeu o espaço para a realização da atividade. Outras organizações e entidades do movimento social de Jacarepaguá, que também colaboraram na organização do evento, estiveram presentes: a Associação Cultural do Camorim (ACUCA), o Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá (JAAJ) e o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA). Acadêmicos, moradores da região, visitantes da Baixada Fluminense, moradores de favelas de Jacarepaguá e da zona sul da cidade e militantes da Organização Popular-RJ também marcaram presença.



Um flagrante da abertura do evento: na foto, moradores do Alto Camorim, representantes da ACUCA,
da Rede Carioca de Agricultura Urbana, da Agrovargem e do Instituto PACS.
No evento, o destaque foi a presença de representantes de outras experiências de resistência na região de Jacarepaguá: uma comissão de moradores da Vila Autódromo, que relataram suas experiências recentes de luta contra as tentativas de remoção por parte da Prefeitura; e outra comissão da Associação de Agricultores de Vargem Grande (Agrovargem), que relataram suas experiências com os movimentos de agroecologia da cidade através da Rede Carioca de Agricultura Urbana e com a administração do Parque Estadual da Pedra Branca, devido às recentes controversas durante a elaboração do plano de manejo do parque.
 
O militante e pesquisador Renato Dória esteve presente no evento representando o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá e ofereceu a atividade "Nas Trilhas da Resistência", um bate-papo sobre a história de Jacarepaguá a partir das experiências de resistência protagonizadas por trabalhadores que viveram na região. É esta uma das formas que o IHBAJA busca contribuir com as lutas sociais e históricas que ocorreram e foram protagonizadas por moradores de Jacarepaguá. Na atividade, foi abordada desde a luta dos quilombolas da região até a luta dos lavradores do Sertão Carioca, época em que a região de Jacarepaguá fazia parte da zona rural carioca. A troca de experiências entre os presentes durante a atividade foi animadora, com destaque para a comissão de moradores da favela morro Santa Marta, que apresentaram aos presentes a experiencia de trilha histórica que realizam onde moram, uma das primeiras da zona sul.
 
Mais um flagrante da abertura da atividade. Desta vez, com representantes da comunidade do
Alto Camorim, do Jornal Abaixo Assinado de Jacarepáguá e do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá
 
   BREVE HISTÓRICO DA PRESENÇA QUILOMBOLA NO CAMORIM
 
Uma dos formas de se contar a história do bairro do Camorim é a partir da fundação, em 1622, do Engenho d'Água de São Gonçalo ou Engenho do Camorim, por Gonçalo Correia de Sá. Gonçalo foi um sesmeiro (senhor de terras) da região de Jacarepaguá durante o século XVII, onde mandou construir uma Igreja em 1625 nas terras do Engenho do Camorim. Filho de um dos primeiros Governadores Gerais da cidade do Rio de Janeiro, o general Salvador Correia de Sá, Gonçalo vem de uma família de militares que participou de inúmeras guerras empreendidas pelos portugueses no processo de conquista e ocupação do território americano contra as nações indígenas originárias e outras nações européias, como os franceses e holandeses. Entre os séculos XV e XVII, portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses participaram da chamada Expansão Marítima, episódio que marcou profundamente a história dos povos dos continentes Africano e Americano, em decorrência das relações de dominação e escravização da gente destes territórios estabelecidas pelos europeus durante o processo de colonização.


Desta forma, não podemos deixar de lembrar que sesmeiros portugueses, como Gonçalo Correia de Sá e seu pai Salvador Correia de Sá, conquistadores e povoadores da cidade do Rio de Janeiro, foram responsáveis pela morte e escravização de milhares de indígenas e de africanos de diversas etnias. E neste contexto que é construído o Engenho do Camorim, movido a energia hidráulica e com o emprego de mão-de-obra escravizada, uma das mais modernas tecnologias de transformação da cana em açúcar naquele período. Foi também um dos primeiros a serem construídos na região de Jacarepaguá durante o período de conquista e ocupação do Rio de Janeiro pelos portugueses.
 
Representante do IHBAJA oferecendo a atividade "Nas Trilhas da Resistência",
onde abordou o histórico da presença quilombola na região de Jacarepaguá. A foto flagra
a área interna da Igreja São Gonçalo de Amarante, construída em 1625.

Outra forma de se contar a história do bairro do Camorim remete ao início do século XVII, no ano de 1614, quando os primeiros africanos escravizados chegaram à cidade e muitos deles foram trabalhar sob o regime compulsório nas terras aforadas de Jacarepaguá. Onze anos depois da chegada deste primeiro contingente de africanos escravizados e apenas três anos após a fundação do Engenho do Camorim, surge, em 1625, um dos primeiros quilombos do Rio de Janeiro colonial: o Quilombo do Camorim. Isto demonstra que as lutas de resistência de africanos escravizados não tardou a brotar no Rio de Janeiro após a invasão portuguesa.


Até o século XIX os quilombos contribuíram significativamente para o processo de construção do território da cidade a partir da resistência à escravização. As tropas imperiais avançavam constantemente sobre os territórios ocupados pelos quilombos, buscando aprisionar novamente escravos fugidos. Disso decorria a mobilidade espacial e temporal dos quilombos e sua localização nas áreas rurais, brejos, encostas ou nos vazios urbanos. Disso decorria também o avanço do território português na direção do sertão do Rio de Janeiro. E dos quilombos mais duradouros destaca-se o de Palmares, surgido no coração do nordeste. Não sabemos quantos anos durou o Quilombo do Camorim, em Jacarepaguá, mas sabemos que esta não foi a única presença de resistência quilombola na região.

Outro flagrante da atividade oferecida pelo IHBAJA aos particpantes do evento: na foto registramos
a intervenção de um dos participantes, morador da favela morro Santa Marta, onde desenvolve atividade de trilha histórica sobre a ocupação do morro desde os primeiros ocupantes.
No período final da escravidão, quando ocorreu um movimento de desfazer as alforrias e restabelecer a escravidão para ex-escravos, durante a década de 1880 os habitantes do Quilombo de Camboinhas (ou Camorim), na freguesia rural de Jacarepaguá, por pouco não foram surpresos e presos pela polícia imperial. Além destes registros, há outros indícios da presença de população quilombola e forra em Jacarepaguá. Nas encostas entre a serra dos Três Rios e a da Covanca, está situada a serra dos Pretos Forros, local que no início do século XX já abrigava ex-escravos libertos no morro da Cachoeirinha, na vertente do Lins. E na vertente da região da Taquara do maciço da Pedra Branca existe uma trilha que chega até a Pedra e o morro do Quilombo. Mais uma vez, vemos fortes indícios da herança da resistência política e cultural dos africanos na região.


O QUILOMBO ONTEM E HOJE NA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ

Quilombo foi uma denominação dos colonizadores portugueses para designar os territórios de resistência que os escravos fugidos chamavam de mocambos ou cerca. Mesmo não durando por muito tempo,  é inquestionável a resistência dos ex-escravos africanos, os quilombolas, durante a colonização portuguesa. Para alguns pesquisadores, entre fins do século XIX e início do século XX alguns quilombos se transformaram em favela: outro espaço criminalizado, desta vez pelo Estado Republicano. E ao longo do século XX, muitas favelas se desenvolveram em Jacarepaguá, dentre elas, a comunidade do Alto Camorim. E na atualidade observamos o resgate desta herança de resistência dos povos afrodescendentes em Jacarepaguá.


Moradores do Alto Camorim e representantes da ACUCA concedem
depoimento sobre as lutas de resistência cultural da comunidade. Ao fundo a fachada da
Igreja São Gonçalo de Amarante, construída em 1625.
Desde 2004, há dez anos, moradores do Alto Camorim entraram com processo junto ao INCRA pleiteando o seu reconhecimento enquanto comunidade remanescente de quilombo. Além disso, foi pleiteado junto à Prefeitura um espaço para desenvolvimento de atividades para exercício da memória e da identidade cultural quilombola dos moradores da região. Uma das instituições a frente deste processo é a Associação Cultural do Camorim (ACUCA), instituição local que participou da organização do evento do último 23 de março.
 

Os moradores do Alto Camorim, que se reconhecem herdeiros da tradição quilombola em Jacarepaguá, possuem uma preocupação que é digna de registro: o avanço do mercado imobiliário na região. O bairro do Camorim é uma das regiões que mais cresce hoje em dia na cidade do Rio de Janeiro. Parte devido a quantidade de terras ainda sem edificações, o que evidencia na região a prática da valorização e da especulação fundiária; e parte devido ao fato de que a região vem recebendo melhorias na infraestrutura devido aos Jogos Olímpicos de 2016, o que resulta na procura por moradias, seja por operários em busca de trabalho; seja por uma classe média em busca de morar num "bairro verde", chamariz bastante utilizado pelas imobiliárias da região, como a RJZ Cyrella no empreendimento chamado Floris, que brota como erva daninha de dentro das florestas do Camorim.

Outro momento do evento cultural de resistência quilombola no Alto Camorim: atividade de
caminhada até o Núcleo Camorim do Parque Estadual da Pedra Branca. Durante o período colonial os escravos e
quilombolas foram responsáveis pela abertura de muitos caminhos pelas matas do Rio de Janeiro.
 

Assim, enquanto o pleito colocado pela ACUCA e demais moradores do Alto Camorim junto à Prefeitura, para ter no local um espaço para desenvolvimento de atividades de resgate da cultura e memória quilombola vem se arrastando há anos, por outro lado, a Prefeitura parece ter mais disposição em estender as mãos para as empresas do ramo imobiliário. Pois os moradores do Alto Camorim observam, cada vez mais, o avanço dos projetos imobiliários sobre áreas densas de floresta, que com o aval da Prefeitura através do PEU das Vargens, propõe redefinições e aumento do gabarito para as construções de imóveis na região.

E é aí que reside a importância da atividade realizada no dia 23/03 na comunidade do Alto Camorim: a denúncia desta prática perversa do poder público em relação aos que reivindicam a herança local da cultura afrodescendente e quilombola em Jacarepaguá e com isso, marcando uma posição política nitidamente de resistência. Fica evidente, assim como no caso de Vila Autódromo, que o peso político que grupos empresarias possuem sobre a direção das políticas públicas é bem maior do que o peso político dos trabalhadores e moradores de favelas.

Após a caminhada e chegar até o Núcleo do Camorim do Parque Estadual da Pedra Branca
os participantes do evento puderam conhecer a apreciar a queda d'água Véu da Noiva.
E o IHBAJA reconhece a importância do evento e da herança histórica da região do Camorim, que não está apenas presente no Patrimônio Material da região, como a Igrejinha do século XVII. Entendemos que o Patrimônio Histórico e Cultural de um povo está também na cultura imaterial, nas tradições, nos costumes e práticas culturais e sociais dos trabalhadores e no cotidiano dos moradores mais simples. E em Jacarepaguá, a herança dos povos afrodescendentes está presente naqueles que reconhecem e reivindicam a tradição e a identidade culturais quilombola na região.


Texto: Renato Dória - Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá

Fotos: Aparecida Mercês
 
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sexta-feira, 21 de março de 2014

Atividade Cultural Quilombola na Comunidade do Alto Camorim, em Jacarepaguá - 23/03/2014




 

No próximo domingo, 23 de março, moradores da comunidade do Alto Camorim, em Jacarepaguá, com apoio da Rede Carioca de Agrcultura Urbana, realizarão uma atividade de inestimável valor histórico-cultural para a região da Baixada de Jacarepaguá como um todo, e em particular, para todas as comunidades afrodescendentes do Rio de Janeiro e Brasil. 

A atividade tem como objetivo dar visibilidade às lutas atuais e históricas da comunidade do Alto Camorim, pois há dez os moradores pleiteiam, através de processo no INCRA, para que a instituição reconheça a comunidade enquanto descendente de Quilombo. Contando com alguns apoios e parcerias locais, entre elas o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) e o Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá (JAAJ), os organizadores do evento oferecem na programação inúmeras atividades ao longo de todo o dia. Confira abaixo a programação completa!

Leia também, abaixo da programação do evento cultural, um  texto falando do histórico quilombola no Alto Camorim e das lutas atuais da comunidade. Elaborado por Maraci Soares, moradora do Alto Camorim e liderança histórica de Jacarepaguá, o texto também possui contribuição de Renato Dória, morador de Jacarepaguá há mais de 30 anos e militante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepáguá. Conifra!


PROGRAMAÇÃO DA ATIVIDADE

8h - 9:30h: Acolhimento dos participantes e café da manhã agroecológico com comidas oferecidas pelos lavradores da Agrovargem, de Vargem Grande.

9:30h - 10h: Abertura - A luta pelo reconhecimento da Comunidade do Alto Camorim enquanto descendente Quilombola - com Maraci Soares, representante da comunidade do Alto Camorim

10h - 10:30h: Nas Trilhas da Resistência - Bate-papo sobre História de Jacarepaguá a partir das lutas sociais: da resistência dos escravos quilombolas no período colonial até as lutas atuais dos moradores de favelas - com Renato Dória, representante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá e morador de Jacarepaguá.
 
10:30h - 13h: Atividades Diversas
 
Atividade Opcional I: Missa e visita ao quintal do Seu Sebastião (agricultor local)
Atividade Opcional II: Caminhada no Parque Estadual da Pedra Branca com visita à cachoeira do véu da noiva. Obs: a trilha é de nível baixo de dificuldade.
Atividade Opcional III: Ciranda o Erê

13h: Almoço - Feijoada tradicional

14h: Atividades Culturais diversas: Hip-Hop da melhor qualidade - com Us Neguin Q Não Se Calam.

Roda de Capoeira tradicional, Graffiti em tela


17h: Enceramento.

Como chegar:

Pegar qualquer condução que vá pelo menos até o Centro de Convenções Riocentro pela Estrada dos Bandeirantes.
Seguindo pela Estrada dos Bandeirantes sentido Vargem Grande, ficar atento às seguintes referencias, pela ordem: Supermercado Mundial da Curicica, Projac e Adega Vovô Tino.
Descer no ponto de ônibus que fica em frente à Cobra Tecnologia (pertence ao Banco do Brasil) situado na esquina da estrada dos Bandeirantes com a estrada do Camorim.
Entrar na estrada do Camorim e seguir até o final, onde fica o ponto final das kombis, na Praça da Igreja São Gonçalo de Amarante.
Pronto, chegou! A atividade será no espaço da Igrejinha.

Conduções que seguem pela Estrada dos Bandeirantes:

Do centro do Rio: 368 (via Serra Grajaú-Jacarepaguá) e 348 (via Linha Amarela).

De Madureira e Cascadura: 747, 749, 758, 757.

Da zona sul: 332. Ou pegar qualquer ônibus até o Downtown, Barrashopping ou Alvorada e pegar outro ônibus: 832, 831, 806 (se informem antes).

Demais: 810, vans e Kombis pra o Camorim, Varem Grande e Recreio dos Bandeirantes. Observação: vans e kombis que fazem a linha do Camorim é o transporte que deixa em frente à atividade. É a melhor opção pra quem vem a pé.


 
Destruição ambiental e a luta Quilombola no Alto Camorim

Tivemos que assitir a deburrada de árvores centenárias sendo executada pelo poder financeiro através de acordos com agentes do governo. Os acadêmicos debatem e argumentam que tudo está dentro da legalidade, endossando a prática governamental e propondo como solução e compensação o reflorestamento. estamos cansados dessas histórias! Somos sbestimados e excluídos. Os moradores do Alto Camorim são nativos nestas terras, somos os verdadeiros ambientalistas que vivem na prática uma relação harmoniosa com anatureza e sentimos na pele o impacto ambiental. Não vivemos só de teorias.

As terras do Alto Camorim constitui um Sítio Arquológico de um Quilombo histórico, um dos primeiros a surgir no Rio de Janeiro durante a colonização portuguesa. Historiadores contam que os primeiros escravos africanos chegaram à cidasde do Rio de Janeiro no ano de 1614, para trabalhar sob a domimnação dos primeiros semeiros e proprietários de engenho. Mas a resistência escrava não tardou e as primeiras notícias sobre a existência de quilombos no Rio de Janeiro são das terras de Jacarepaguá: foi o Quilombo do Camorim, que data do ano de 1625, apenas 11 anos após a chegado dos africanos escravidos e 90 anos após o início da invasão das terras indígenas americanas pelos portuguesas.

Aqui, na comunidade descendente quilombola do Alto Camorim, existem inúmeras provas desta ancestralidade: "a casa Grande dos escravos", a Pedra do Quilombo e os achados arqueológicos de uma escavação realizada no início da década de 2000, quando foram encontrados utensílios de diferentes épocas e ossadas de seres humanos que indicam algumas serem de escravos. Estes achados apontam para uma possível existência de cemitério de escrvaos nas proximidades da Igreja, no coração da nossa terra. Tudo isto reforça a ancestralidade dos nossos descendetes nestas terras.



À direita, exemplo de ossada de escravos desenterrada após escavações. À esquerda, ilustração exemplifica a forma como eram dispostos os corpos dos escravos ao serem enterrados. Chama atenção a quantidade de ossos, o que indica que os escravos eram enterrados em conjunto, cf a ilustração sugere. É provável que a ossada encontrada do lado de fora da Igreja São Gonçalo de Amarante, no Camorim, no início da década de 2000 durante obras, tenha semelhança com a foto acima.

A geografia das terras do Alto Camorim possui a mais notável herança de todas as tradições de resistência quilombola: para se defender e combater o intento de dominação escravista dos portugueses senhores de engenho, cafeicultores e dos capitães do mato, os negros que ousavam resisistir à escravização construíam os seus mocambos, para os portugueses quilombos, sempre em terras altas, o que facilitava a defesa e a fuga, caso as forças de repressão os encontrassem. Portanto, Alto Camorim concentra todas as provas de comunidade remanescente de Quilombo.

Há dez anos a comunidade vem pleiteando um espaço para desenvolvimento cultural das nossas tradições exatamente onde ocorreu a devastação das árvores pelas empreiteiras. Percebemos que a derrubada parou bem próximo à Igreja São Gonçalo de Amarante. No entanto, a "sobra" de espaço que poderia ser cedido (devolvido?) para a comunidade, foi-nos informamdo que seria reservado para a Prefeitura. Recentemente o Sr. Prefeito solicitou o envio para o seu gabinete da documentação do pleito e o projeto do Desenvolvimento Cultural Quilombola. Todos os documentos e fotos foram enviados, entretanto, até o momento não nos foi respondido. Estamos ainda no aguardo de uma resposta.

Assim como no passado caolonial, o quilombo do Camorim segue ainda hoje na luta pela preservação da natureza e da identidade cultural que os portugueses colonizadores e os governantes atuais insistem em desrespeitar. Viva a luta Quilombola! Viva o Quilombo do Alto Camorim!

Maraci Soares, Alto Camorim (outros moradores também colaboraram)
Renato Dória, Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá

 
 
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sexta-feira, 14 de março de 2014

PROBLEMAS SOBRE TRILHOS: o sistema de bondes em Jacarepaguá e os moradores descontentes.

Problemas com transporte público em Jacarepaguá não são recentes. Qualquer pessoa que precise utilizar o transporte público precisa: 1. Acordar ou sair cedo; 2. Se acostumar com ônibus, trem ou metros cheios; 3. Pagar uma tarifa considerada cara por um serviço, muitas vezes, mal prestado; 4. Se acostumar com as constantes obras para “melhor” o trânsito. Mas essa situação não é atual. Em Jacarepaguá é um problema que persiste desde a inauguração do primeiro transporte público que ligou o bairro ao restante da cidade: o bonde.
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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

150 anos de Ernesto Nazareth

Janis Cassília

Hoje se perguntarmos a uma pessoa o que é o tango brasileiro, muito provavelmente a pessoa dirá “não sei”. Ou então se perguntarmos quem era Ernesto Nazareth, poucas pessoas saberão dizer. Numa época em que pagodes, sambas e outras músicas populares invadem as lojas e nossos iphones, deveríamos saber que houve outra época, em que mesclar o erudito com o popular era inovador. Um feito para grandes mestres da música brasileira, o mais reconhecido deles, Ernesto Nazareth.
Há 150 anos nasceu Ernesto Nazareth (1863-1934). Esse homem que foi, no fim de sua vida, paciente da Colônia Juliano Moreira, é visto como um dos grandes mestres da música popular brasileira, lugar de destaque que divide com Chiquinha Gonzaga. Nasceu em uma casa na encosta do Morro do Pinto na região do Porto do Rio de Janeiro. Seu pai era um despachante aduaneiro e sua mãe, que morreu quando Ernesto ainda era criança, a responsável por lhe instruir os primeiros ensinamentos musicais. Aos 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, uma resposta ao pai, para afirmar sua vocação musical. Ernesto Nazareth compôs mais de 200 obras, a mais famosa “Odeon”, e a maior parte delas tangos brasileiros, que faziam parte dos Chorões, uma união de ritmos que animava as festas (forrobodós) cariocas. Ligado à música erudita, Nazareth trazia em suas composições elementos populares e africanos. Passou a vida, gravando músicas, se apresentando nas casas de música como pianista demonstrador e no salão de espera do Cinema Odeon. Foi reconhecido internacionalmente, o que não lhe privou de uma vida modesta, apesar de suas músicas terem dado lucro para seus editores. Casado e pai de quatro filhos, trabalhou como compositor, instrumentista, pianista e professor de música.

No decorrer de sua vida perdeu a audição e foi internado na Colônia Juliano Moreira em 1933, onde tocava piano na casa do administrador. Em 1934, depois de visita da sua filha, Ernesto Nazareth fugiu da instituição. Seu corpo foi achado três dias depois, na cachoeira da Colônia, em estado de decomposição. Era um domingo triste de carnaval. O Rio de Janeiro havia perdido um grande compositor para a morte e a loucura. 

Ernesto Nazareth aos 45 anos, 1908. Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte: http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images




Anúncios de discos da gravadora Odeon, 1930, incluindo o 78-RPM gravado pelo próprio Nazareth contendo as peças Apanhei-te, cavaquinho e Escovado. Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte: http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images


Reportagem anunciando a morte de Ernesto Nazareth, Correio da Manhã, terça-feira, 6 de fevereiro de 1934. Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx



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