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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023


Organizações camponesas em Jacarepaguá:

o caso da Caixa Auxiliadora dos anos 1920


Por Leonardo Soares dos Santos

Professor de História e membro do IHBAJA



Não foram poucas as organizações camponesas que brotaram na Baixada de Jacarepaguá entre os anos de 1940 e 1960. Associações de Lavradores, Associações Rurais, e até mesmo Ligas Camponesas deram as caras na região, reunindo as demandas e aspirações de posseiros e pequenos lavradores. Por meio delas tais agentes buscaram fazer frente às tentativas de despejos encetadas por grandes companhias imobiliárias, bancos e pretensos proprietários individuais. Esse processo atingiu seu clímax na virada da década de 50 para 60. Imensos loteamentos varreram a região, destruindo terras antes voltadas para a produção agrícola.

 

Mesmo antes, em meados da década de 20, alguns lavradores buscaram constituir entidades para a defesa de seus interesses. Foi o caso das caixas beneficentes. Magalhães Corrêa, naturalista que se dedicou a desbravar a região do Sertão Carioca (a zona rural do município do Rio de Janeiro) menciona a existência de uma certa Caixa Auxiliadora Beneficente dos Lavradores de Jacarepaguá e Guaratiba (CORRÊA, 1936. p. 186). 


Como contava o naturalista, tal associação teria sido criada por Maurício de Lacerda, vereador carioca, e notória liderança anarquista da cidade. A Caixa tinha como principal finalidade contribuir com os lavradores na sua disputa contra grandes proprietários da região. Os lavradores estavam sendo ameaçados de despejo. Aqui se revelava uma questão que atuaria grandemente na mobilização dos pequenos lavradores da região pelas décadas seguintes: a questão fundiária seria mais premente do que as questões estritamente econômicas.


Podemos encontrar vários registros de suas atividades na imprensa carioca de esquerda. O Trabalho e Capital (“Actividade Proletaria”, 18/02/1928, p. 1) dava conta de uma assembleia ocorrida em fevereiro de 1928. Entre os assuntos tratados constava a prestação de contas da entidade pela tesouraria, “que acusou saldo recolhido no Banco Ultramarino”. Na “ordem do dia” figurava a eleição da “nova Directoria e inauguração do retrato do Sr. Mauricio de Lacerda em sua sede social”. 


Após a eleição da nova diretoria, Manoel Carvalhaes (reeleito presidente da Caixa), Maurício de Lacerda e J. Cruz discursaram. O primeiro rendeu elogios ao segundo, patrono da entidade, afirmando que enquanto a Caixa Auxiliadora “tiver os abnegados sócios que tem e o patrono que a assiste, poderá prestar grandes serviços aos proletários do campo”. 


Já Lacerda lembrou que se “hontem a luta era contra um banco, que disputava a terra aos lavradores, hoje deve se secundar na resistencia ao fisco, que arranca dessa terra, assim conquistada, o producto do trabalho camponez”. E também concitava os “lavradores a formar associações de classe para essa luta contra os tributos, defendendo-se de quem lhe suga o suor”.  


J. Cruz em sua fala procurou mostrar “o valor da solidariedade, dizendo que a Caixa que deu as terras a todos dará agora as garantias a cada um dos seus direitos”.


E finalizava o jornal: “Terminando esse discurso, que foi longo, expressivo, arrancando aplausos nas passagens principalmente em que pedia a união o espírito de organização, encerrou-se a sessão, às 15 horas e 45 minutos”.



Referência bibliográfica:


Corrêa, Armando Magalhães. O sertão carioca. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936. (Originalmente escrito durante durante o ano de 1933).




A CAIXA AUXILIADORA DE JACAREPAGUÁ E GUARATIBA NOS JORNAIS





MAURICIO LACERDA


Crítica, 01/02/1928, p. 3
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