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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ATENÇÃO: CHAMADA PARA INSCRIÇÕES PARA A CAMINHADA ECO-HISTÓRICA 2017


O Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá - IHBAJA - abre a partir de hoje (26/12/2016) chamada para inscrições da atividade Caminhada Eco-histórica: nas trilhas da nossa história, que será realizada em data ainda a definir a partir da segunda quinzena de Janeiro de 2017. As inscrições deverão ser feitas SOMENTE por e-mail, até o dia 11/01/2017, pelo seguinte endereço: ihbaja@gmail.com. O assunto da mensagem deverá ser: INSCRIÇÃO CAMINHADA ECO-HISTÓRICA.

Os interessados deverão registrar as seguintes informações no corpo da mensagem: nome completo, bairro em que mora, telefone para contato e explicar o motivo do interesse em participar da atividade. As inscrições são individuais, ou seja, uma pessoa não poderá realizar mais de uma inscrição. A atividade é sujeita a limitação de vagas, uma vez que um dos locais onde poderá ser realizada a atividade impõe restrições a quantidade de pessoas por grupo.

O local da atividade será divulgado com antecedência de até duas semanas do dia em que a atividade será realizada. Os três locais que dispomos para realizar a Caminha Eco-histórica para Janeiro de 2017 são: Núcleo Histórico Colônia Juliano Moreira/ Fazenda Engenho Novo da Taquara, Núcleo Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Camorim e Núcleo Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Vargem Grande. Os três Núcleos históricos possuem em comum uma abordagem temática que trata da ocupação indígena, quilombola e portuguesa na região de Jacarepaguá.

A Caminhada Eco-histórica: nas trilhas da nossa história é uma atividade oferecida pelo IHBAJA na região de Jacarepaguá desde 2011 e é coordenada pelo professor-pesquisador Val Costa, com co-coordenação do professor-pesquisador Renato Dória. A atividade é indicada para pessoas de todas as idades por ser uma caminhada em trilha de nível leve. O tempo mínimo de duração é de até 3h, com início no período da manhã. Recomendamos o uso de roupas leves, chapéu ou boné, calçado flexível e confortável, levar garrafa com água e frutas, repelente, traje de banho (dois dos três percursos tem a opção de banho em cachoeira) e protetor solar.


 Pedra do Lagarto - Comunidade Quilombola Cafundá Astrogilda
Núcleo Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Vargem Grande


Pedra do Lagarto


Aqueduto da Fazenda do Engenho Novo - bairro da Colônia
Núcleo Histórico Fazenda do Engenho Novo/ Colônia Juliano Moreira




Igreja Nossa Senhora dos Remédios
Núcleo  Histórico Fazenda do Engenho Novo/ Colônia Juliano Moreira



 

 Sub-sede Camorim do Parque Estadual da Pedra Branca
Núcleo  Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Camorim


 Igreja São Gonçalo de Amarante
Núcleo  Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Camorim


 Circuito das Águas - Subsede Camorim do Parque Estadual da Pedra Branca
Núcleo  Histórico Maciço da Pedra Branca vertente Camorim

Informações adicionais sobre a atividade serão fornecidas por e-mail e/ou pelo blog. Os membros do IHBAJA possuem contato com os moradores das Comunidades Quilombola do Camorim e Cafunda Astrogilda e, dependendo do percurso que for definido, é possível que para a Caminhada representantes destas comunidades poderão estar presente contribuindo com a atividade.

Acessem o blog do IHBAJA com frequência para não perder este atividade que é uma oportunidade única. Venha conhecer um pouco mais sobre a história da Baixada de Jacarepaguá e do Rio de Janeiro numa atividade lúdica, prazerosa, descontraída e em contato com a natureza. Entre em contato atrvés do nosso e-mail.
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sábado, 24 de dezembro de 2016

IHBAJA participa de visita-guiada na Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande


No dia 03/12/2016 trabalhadores do Colégio Estadual Teófilo Moreira da Costa e moradores da comunidade remanescente Quilombola Cafundá Astrogilda organizaram uma visita-guiada pela trilha que leva até a comunidade, repleta de sítios históricos e com áreas represadas do rio Mucuíba que funcionam para banho e lazer. O local é bastante frequentado em dias ensolarados pelos moradores das Vargens e adjacências, sendo uma ótima alternativa à praia lotada durante o verão.

De acordo com a Fundação Cultural Palmares (FCP), instituição pública federal criada em 1988 voltada para promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira, "quilombolas são descendentes de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos. E uma das funções da Fundação Cultural Palmares é formalizar a existência destas comunidades, assessorá-las juridicamente e desenvolver projetos, programas e políticas públicas de acesso à cidadania."



Em mais de 25 anos de atuação, a FCP identifica, reconhece e certifica comunidades quilombolas por todo o território nacional e já emitiu mais de 2.476 certificações para comunidades quilombolas. A certificação "reconhece os direitos das comunidades quilombolas e é referência na promoção, fomento e preservação das manifestações culturais negras e no apoio e difusão da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da História da África e Afro-brasileira nas escolas."


Atualmente, na cidade do Rio de Janeiro são quatro as Comunidade Remanescentes de Quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares: as duas mais conhecidas estão localizadas em áreas urbanizadas, ou seja, são quilombos urbanos: o da Pedra do Sal, na zona Portuária, e o Sacopã, na Lagoa, zona sul da cidade. As outras duas, menos conhecidas, estão situadas na zona oeste da cidade: são as comunidades Quilombola do Camorim, situada no mesmo bairro e a Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande. Esta, certificada em 2014, foi a última comunidade quilombola da cidade do a ser reconhecida pelo Incra e pela Fundação Palmares.


Mapa das Comunidades Quilombolas do estado do RJ elaborado em 2013.
Fonte: RioOnWatch.org.br.


Localizadas, portanto, na região da Baixada de Jacarepaguá as duas comunidades remanescentes de quilombos possuem outra característica em comum: surgiram no entorno do Maciço da Pedra Branca. A Baixada de Jacarepaguá, durante o período colonial e de auge da produção açucareira no Brasil, chegou a abrigar onze (11) engenhos de fabricação do açúcar. Muitos são os registros fazendo referência à região como a "planície dos onze engenhos". Muitos, também, são os registros que fazem referência à presença quilombola e de resistência à escravização de negros africanos na região: a Serra do Quilombo (em Vargem Grande), a Pedra do Quilombo (na Taquara), a Serra dos Pretos Forros (entre a Covanca e Freguesia).

Nada fora do comum, dada a geografia da cidade do Rio de Janeiro, cortada por três grandes maciços, o do Gericinó/Mendanha, o da Tijuca e o da Pedra Branca, a existência de áreas elevadas, como morros e serras. Estes indícios da presença quilombola na região de Jacarepaguá são reforçados por inúmeras pesquisas que apontam a fuga para as "matas elevadas" e a organização de quilombos como uma das práticas principais de resistência à escravização na cidade do Rio de Janeiro. Daí a nomeação de morros, serras e outros elementos da geografia local fazendo referência ao passado quilombola da região de Jacarepaguá. Daí, também, explica-se, em parte, a existência das duas comunidades remanescentes de quilombo em Jacarepaguá terem se desenvolvido nas vertentes elevadas do Maciço da Pedra Branca.


Os três maciços da cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: Aventritur.com.br



Vemos nesse mapa a área de abrangência do Maciço da Pedra Branca.
 Fonte: Aventritur.com.br


E uma característica relevante de uma das comunidades remanescente de quilombos de Jacarepaguá é guardar até hoje em dia aspectos rurais: é o caso da comunidade quilombola Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande. Muitas famílias que moram por lá ainda praticam agricultura de subsistência que contribui, também, para o abastecimento do mercado local de alimentos. Abóbora, aipim, inhame, banana, limão e diversas hortaliças são cultivadas por lavradores e lavradoras.

No local há mais de 200 anos, as famílias de moradores do quilombo Cafundá Astrogilda tem uma herança cultural de grande importância, não somente histórico-cultural mas, sobretudo, econômica, pois contribui para a produção de alimentos sem agrotóxicos para o consumo dos moradores da região de Vargem Grande. E a atividade realizada pelos trabalhadores do C. E. Teófilo Moreria da Costa tenta aproximar os estudantes moradores da região desta riquíssima experiência histórica e cultural, numa atividade lúdica e educativa.

Abaixo vemos alguns registros da atividade:




Os moradores do local Sandro e Alexandre relatam que neste ponto registrado pela foto funcionava um engenho de moer mandioca movido à água. Estrada do Mucuíba, Vargem Grande, via de acesso ao Quilombo Cafundá Astrogilda.


Estrada do Mucuíba, trecho que marca 100m de altitude do nível do mar. 
Ainda de terra batida e cercada pela mata.


Flagrante do aspecto ainda rural da Comunidade Quilombola Cafundá Astrogilda: moradores usando cavalo como meio de transporte.







Um dos acessos à Comunidade.


Momento em que Jorge, morador-lavrador do quilombo Cafundá Astrogilda, fala aos estudantes sobre sua relação com a terra: "aqui praticamos a agricultura limpa."


Plantação de aipim e abóbora num sítio de lavrador do Quilombo Cafundá Astrogilda.



Texto e fotos: Renato Dória

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Comunidades Quilombolas da Baixada de Jacarepaguá organizam atividades no mês de novembro


No mês de novembro deste ano (2016), as duas comunidades Quilombolas da região de Jacarepaguá, a Cafundá Astrogilda e a do Camorim, realizaram atividades marcando a importância histórico da data do dia 20 para a resistência da cultura afrodescendente e quilombola da região. Estas atividades visam fortalecer as lutas e celebrar as conquistas dos moradores das comunidades, além de contribuir para aprofundar a identidade sociocultural de origem africana.

Além  do já tradicional evento no dia 20 de novembro no largo de Vargem Grande, os moradores da  comunidade Quilombola Cafundá Astrogilda realizaram também neste mês de novembro várias atividades de caminhadas guiadas pelas trilhas do quilombo, que possui várias cachoeiras para banho e sítios históricos. Desde o início deste ano os moradores da comunidade estão construindo um Eco-Museu para preservação da memória e da cultura quilombola local.

Abaixo, algumas fotos da Aula de Campo no Quilombo, realizada no dia 18/11/2016 na comunidade Quilombola Cafundá Astrogilda, com alunos do Colégio Vargem Grande, por meio de articulação do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA).





 Nesta atividade, além de aprenderem um pouco mais sobre a história de Jacarepaguá e do Rio de Janeiro com professores do colégio, os alunos têm a oportunidade de conhecer mais sobre a história da região de Vargem Grande e da zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro a partir da experiência dos próprios moradores. As famílias de moradores da comunidade Quilombola Cafundá Astrogilda vivem há mais de 200 anos na região do Alto Mucuíba, em Vargem Grande e muitos moradores de lá praticam a agricultura de subsistência e de comércio voltado para o mercado de alimentos da região, comercializando em feiras e com a escola pública estadual local.





 Já os moradores da comunidade Quilombola do Camorim, por meio da Associação Cultural Quilombola do Camorim (ACUQCA), organizaram a 15ª Feijoada da ACUQCA - Dandara e Zumbi dos Palmares, enfatizando nas celebrações deste ano a homenagem e reconhecimento à presença feminina nas lutas e conquistas da população afrodescendente na história do Brasil. O evento foi realizado no dia 27/11 e contou com diversas atividades, como roda de Jongo e de Capoeira, barracas de artesanatos produzidos por moradores de Jacarepaguá, declamação de poesias, música, etc. O IHBAJA esteve presente para prestigiar o evento.

Abaixo, algumas fotos do evento realizado em celebração ao mês da Consciência Negra e Afrodescendente pela ACUQCA, no Camorim. 




 A 15º Feijoada da ACUQCA foi realizada este ano em frente a Igreja São Gonçalo de Amarante, construção de 1625, uma das mais antigas da Baixada de Jacarepaguá. A capela foi construída nas terras do Engenho do Camorim, erguido no século XVII e um dos mais antigos de Jacarepaguá. Este engenho pertenceu à família Sá, que forneceu conquistadores e os primeiros governadores no início da colonização portuguesa no Rio de Janeiro.





Tão (ou talvez mais)  importante quanto lembrar os dirigentes da obra colonizadora do Brasil, é recordar que esta mesma sociedade colonial foi formada por grupos étnicos variados, não só o português, mas sobretudo as diversas etnias de africanos e indígenas nativos.




E se até hoje ensina-se na escola que, no passado, tanto os africanos quanto os indígenas foram subjugados e escravizados por conquistadores portugueses durante a obra colonizadora, num percurso de 500 anos de história, é importante destacar que neste mesmo percurso houveram lutas e resistência às diversas tentativas de subjugação e escravização. O Quilombo, na sociedade colonial, foi um espaço socialmente construído de resistência à subjugação e à escravização, ocupado pela população marginalizada da sociedade colonial portuguesa.

As revoltas de africanos escravizados e todo o período em que atuou o movimento abolicionista, o protagonismo dos negros foram exemplos de resistência. E é este um dos significados das celebrações do mês de novembro em Jacarepaguá: firmar uma posição de resistência cultural e de valorização de uma herança étnica africana de luta contra a exploração e dominação, seja econômica, política ou cultural.

Texto e fotos: Renato Dória

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

PESQUISA SOBRE MILITANTES COMUNISTAS NA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ


Relatório final de pesquisa:


"Militantes comunistas e a luta pela terra:
o exemplo de uma antiga freguesia rural, a região da Baixada de Jacarepaguá

(1920-1968)"





Para ler a íntegra do texto do relatório, clique AQUI.





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segunda-feira, 3 de outubro de 2016




 por Leonardo Soares, pesquisador do IHBAJA e professor da UFF e UFRJ



Não era fácil os trabalhadores rurais se organizarem em associações trabalhistas em pleno início da década de 1960. Muito embora as iniciativas do Governo João Goulart favorecessem a criação de novos sindicatos, é preciso que não se esqueça que o ambiente anti-comunista era muito presente no interior dos aparelhos policiais. E tal fato condicionava enormemente o intenso trabalho de vigilância da polícia política sobre essas entidades. A suspeita de que tais entidades não passavam de meros aparelhos a serviço do PCB eram acentuadas.
Entre as poucas informações que temos sobre como funcionavam efetivamente aquelas entidades é bastante emblemático que a mais detalhada seja exatamente um relatório produzido pelos DOPS do então estado da Guanabara, em dois de dezembro de 1963. A ânsia do agente em captar os mínimos detalhes da Associação Rural de Jacarepaguá acaba nos proporcionando informações que infelizmente não encontramos em relação a outras. Por ele ficamos sabendo que a Associação se localizava na estrada dos Bandeirantes, nº 5.045, “a 100 m. adiante do marco Km 5”. O agente da polícia política nota ainda que “suas instalações são toscas. Constam de pequena sala e carteiras e bancos tipo escolar. Algumas gravuras nas paredes com motivos e trajes do campo”. A minúcia no detalhamento é tanto que consta também que existe “um quadro negro onde estava escrito - ‘manina’ e gravuras relativas ao dia das mães”. A sede da associação parecia ser pobre não apenas em mobiliário, como em termos de acervo de livros: “num armário encontra-se um número da revista A Lavoura, papéis não identificados e alguns talões de blocos de recibo amarrados e sem uso”.
Certos detalhes do relato sugerem que as observações do agente não foram realizadas numa única visita à sede. É bem provável que ele participasse de várias reuniões. É o que se deduz quando lemos detalhes sobre a rotina de funcionamento da sede:
- A chave da sede é guardada na residência do filho do tesoureiro localizada nos fundos do terreno. Note-se que esse indivíduo é desconfiado e não responde a perguntas. Tem pequeno defeito nos quadris.

- Das reuniões participam constantemente políticos e, no show de 24, o Ministro do Trabalho enviou representante.

- Tudinho e Arlindo Amador da Silva possuem carteira social. São moradores na rua do Rio do Cascalho, no antigo Km 28 da Estrada dos Bandeirantes e nada de concreto quiseram informar. Demonstraram medo em suas respostas que são sempre repetições do que tem sido divulgado pela Associação.

    O relatório revela também um aspecto da metodologia de investigação do DOPS, e que  reforça a hipótese de que as observações de campo que os agentes efetuavam          demandavam dias – talvez semanas - de trabalho de apuração:
Embora o Sr. Caseiro informe que a Associação tem por finalidade a legalização da situação dos posseiros, frente aos legítimos proprietários, verifica-se que se está promovendo a intensificação de um progresso social visando arregimentar novos socios ao mesmo tempo que novas teorias lhes são apresentada[s].
Cheguei a tal conclusão, não só pelo que ouvi no local como também pela faixa afixada frente a estrada dos Bandeirantes, que convidava aos lavradores para um grande show, enquanto os convites distribuidos entre os associados menciona grande assembléia para a fundação do sindicato.

Além das informações sobre o dia-a-dia da Associação, o relatório concede grande papel à figura do tesoureiro da entidade, o sr. Antonio Ferreira Caseiro. É ele quem “conhece todo o histórico imobiliário do local, descrevendo tudo com muita facilidade.” Conhecimento esse que de certa forma revela a notável importância que nesse tipo de entidade possuía a figura do advogado, que no caso da Associação de Jacarepaguá era o dr. Pedro Coutinho Filho.



Antonio Caseiro na visita da comissão do Sindicato Rural de Jacarepaguá é o segundo da esquerda para a direita. Fundo Última Hora do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo.



Mas o que mais chama atenção do agente mesmo é a grande capacidade do tesoureiro Antonio Caseiro em efetuar uma espécie de trabalho de conscientização política dos posseiros que recorriam à entidade. Lembra o agente que ele devia “possuir biblioteca” e que lia “tudo sobre o problema de terras e colonos”.
Capacidade essa que se expressava na própria organização da estrutura física da sede.  Aspectos que denotavam o desenvolvimento da Associação como uma espécie de centro de socialização e aprendizado de conceitos e categorias discursivas e de pensamento, voltados para a configuração de uma determinada leitura sobre os processos sociais da região que mais dissesse respeito à experiência de vida dos pequenos lavradores que recorriam à organização. Além das carteiras e cadeiras disposta como num auditório ou sala de aula, o agente do DOPS notava que “na frente da sede existe pequeno palanque”. O mesmo frisava ainda vários “políticos” costumavam comparecer à Associação. O próprio Caseiro era descrito como “amigo influente” de políticos como os deputados pela Guanabara Mourão Filho, Roland Corbusier, Hercules Correia e Oswaldo Pacheco. Rede de amizades que provavelmente muito tinha a ver com o fato de ser “Cabo Eleitoral desde muitos anos, existindo no terreno de sua residência uma placa eleitoral do Dr. João Machado – [do partido] MRT”.
A formação de uma rede de apoiadores não visava apenas às autoridades políticas. Os dirigentes da Associação, até por contar com algum recurso viabilizado pela entidade (ou mesmo por partidos, como o PCB, ou mesmo por alguns daqueles políticos), desenvolvia ações que buscava congregar o maior número possível de pequenos lavradores, dos diversos pontos não só da região de Jacarepaguá, mas de outros do Sertão Carioca. Para a reunião do dia oito de dezembro de 1963, haviam sido “fretados 2 ônibus para transporte grátis dos participantes”. No dia 1º daquele mês, o “ônibus nº de ordem 49.513 da Viação Taquara S.A. conduziu associados para uma reunião em Santíssimo”.
O reconhecimento da grande habilidade de Caseiro em articular seus argumentos leva o investigador do DOPS a destacar em tópicos os temas de maior interesse por parte do português:
Sem grande conhecimento, porém com grande vibração discute:
Criticas ao Governador
Reforma Agrária na China
Necessidade de Reforma Agrária
Inoperância do Poder Legislativo
Ricos ‘demais’ e pobres ‘miseráveis’
Sindicalização
S.U.P.R.A.
A Reação inevitável do camponês

Outro aspecto a se destacar é que bem antes da averiguação da Associação Rural de Jacarepaguá por parte do DOPS, este já tinha uma ficha com informações sobre seus dirigentes. Eles já sabiam, por exemplo, que “Teobaldo ou Theobaldo José Ribeiro, brasileiro, preto, morador na estação de Santíssimo. [...] Cabo eleitoral experimentado e influente entre autoridades” (as mesmas que Caseiro).
Sobre Antonio Caseiro, os agentes já tinha ciência que se tratava de um “português naturalizado, branco, casado com brasileira, pouca instrução, 60 anos aparentes, morador no local 33 anos em casa situada à 200 metros da sede da Associação, onde são guardados todos os documentos e livros do órgão”.

Para infelicidade de Caseiro os agentes não apenas conheciam muito de sua vida e de sua atuação sindical e política. Na visão deles, o luso-brasileiro era subversivo demais para os padrões políticos da região. Tanto assim que mal havia sido desencadeada com o Golpe de 1964, a Ditadura Militar por meio do mesmo DOPS iria ao encalço de Antonio Caseiro, prendendo-o e torturando-o, certamente pelo “programa social” que ele tinha o costume de discutir com tanta “vibração”.



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terça-feira, 2 de agosto de 2016

IHBAJA recebe Moção de Louvor e Reconhecimento


O Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) recebeu, no dia 30 de julho, uma Moção de Louvor e Reconhecimento pelos serviços prestados nas áreas de pesquisa, preservação e divulgação da História dessa região. A premiação foi concedida pelo Vereador Leonel Brizola Neto e contou com a presença de representantes de instituições de pesquisa, líderes comunitários, professores e membros do Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá. 
O IHBAJA é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2007, com o intuito de salvaguardar e divulgar o Patrimônio Material e Imaterial da Baixada de Jacarepaguá. Essa região possui um dos maiores acervos arquitetônicos do Rio de Janeiro colonial, além da maior floresta urbana do mundo. Tudo isso, infelizmente, pouco conhecido pelos moradores da região e da cidade do Rio de Janeiro como um todo.

Quem quiser conhecer um pouco mais o nosso trabalho ou tiver alguma fotografia antiga, algum objeto, trabalho de arte, documento ou livro que retrate a História e a Memória de nossa região, entre em contato conosco pelo e-mail: ihbaja@gmail.com, pelo blog: http://ihbaja.blogspot.com.br ou pelo facebook: https://www.facebook.com/ihbaja/








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terça-feira, 19 de julho de 2016

O DIA EM QUE A LOUCURA VIROU CASO DE POLÍCIA E DAS FORÇAS ARMADAS

Por Janis Cassilia 
Pesquisadora do IHBAJA e professora
Mestre em História das Ciências e da Saúde

Colônia Juliano Moreira.  Carros patrulhas da Polícia Federal e um Urucu do exército chegam. Um grupo de servidores, médicos, líderes sindicais, familiares e internos se reúnem em manifestação contra a posse do interventor federal na direção da instituição.  Câmeras de TV registram o momento. Os repórteres entrevistam o assistente do ministro da saúde que responde “que aparato policial?”. A repórter afirma “15 homens da polícia federal!”. “Pode até aparecer mais” foi a resposta obtida.

Manifestantes contra a intervenção federal na porta do Bloco da Administração da Colônia em maio de 1988. Eram médicos, funcionários, líderes sindicais, pacientes e familiares fizeram uma manifestação pacífica. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4


Em 24 de maio de 1988, o movimento pela reforma psiquiátrica ganhou força na Colônia, quando o Ministro da Saúde decidiu intervir na direção das Instituições Psiquiátricas Federais. O movimento denunciava as más condições das instalações psiquiátricas e as condições desumanas aos quais estavam sujeitos doentes e funcionários. Porém, o governo, que tinha acabado de sair de um período de ditadura e repressão, via neste movimento um indício de desordem que precisava ser controlada.

Policiais Federais armados em frente ao bloco sede da administração da Colônia Juliano Moreira. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4

O ano de 1988 foi conturbado no plano político e na saúde. Uma greve geral dos funcionários da saúde federal levou 15 mil servidores a paralisarem suas atividades por 15 dias, inclusive na Colônia. Além disso, acusações de desvio e corrupção dos diretores da Colônia e do Hospital Pinel, e reportagens que “denunciavam” que as condições sub-humanas continuavam a existir na Colônia, o que a tornou alvo da segunda intervenção federal. O diretor foi afastado e um interventor escolhido para ocupar a direção da instituição.

Reunião e debate durante a manifestação em 1988. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4


Não foi à toa, que o Ministério da Saúde destacou equipes da Polícia Federal e da Polícia Militar. Além de que um carro de combate e o Delegado do DOPS também compareceram. Ainda que a redemocratização estivesse acontecendo, velhas táticas de intimidação foram utilizadas e escancaradas na imprensa. Os manifestantes não cederam e resistiram pacificamente. Derrotado, o Ministério da Saúde postergou a posse do interventor. No fim, o processo de transferência da Colônia para o do Governo Estadual começou. E a presença do carro de combate blindado, diante de tão pacífico, mas decidido grupo de manifestantes, levou as forças armadas a dar explicações de que tudo não passou de uma “infeliz coincidência”.

Carro de combate chamado Urucu fazendo manobras em frente ao bloco da administração da Colônia Juliano Moreira. A participação deste carro blindado teve repercussão negativa na imprensa. As forças armadas justificaram a presença para treinamento de futura competição na área do exército anexa à Colônia na época. Também afirmou que se tratava de um carro “Cascavel” e não um “Urucu”. Imagem de reportagem da TV Globo. Retirado do documentário sobre a Colônia Juliano Moreira, RJ – 80 anos. Acesso em https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4

Fontes:
1. Jornal do Brasil, edição de 24 de maio de 1988. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional - http://hemerotecadigital.bn.br
2. Trechos reportagem Rede Globo disponível no documentário Colônia Juliano Moreira, RJ - 80 anos. Disponível em  https://www.youtube.com/watch?v=vjfahlwn-n4

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Cerimônia de Moção Honrosa ao IHBAJA

Convidamos  a todos para a Cerimônia de entrega de moção honrosa ao Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) por serviços prestados na área de pesquisa, preservação e divulgação da memória, história, patrimônios culturais e históricos da Região da Baixada de Jacarepaguá.
Em tempos de inúmeras mudanças e intervenções no bairro, com a crescente urbanização e transformação do espaço, impactos em sociedade tradicionais como as quilombolas e de luta dos movimentos sociais da região, o trabalho do IHBAJA é bem-vindo como forma de reflexão da história local e elaboração de propostas de caminhos para o futuro de Jacarepaguá.
Dessa forma, o vereador Brizola Neto oferece ao IHBAJA a moção honrosa por suas atividades.

PROGRAMAÇÃO:
- 10h. Abertura com um filme de Brizola.
- 10h05. Exposição do vereador Leonel Brizola sobre a trajetória política de seu avô.
- 10h30. Outro filme com Brizola.
- 10h35. Abertura da palavra para os convidados.
- 11h. Outro filme com Brizola.
- 11h05. Início da homenagem ao IHBAJA com a palavra do vereador.
- 11h08. Palavra do representante do IHBAJA.
- 11h35. Entrega da Moção e fotos.
- 11h40. Encerramento.



Estamos felizes pelo reconhecimento e aguardamos a todos para comemorar conosco!
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segunda-feira, 6 de junho de 2016




A coxinha e a mortadela também têm história


Por Val Costa


Retrato de Dona Tereza Cristina, por José Correia Lima (1814-1857)


Os dois alimentos apresentados no título acima são consumidos diariamente por milhões de brasileiros. Entretanto, nos últimos meses, eles passaram a frequentar mais os noticiários políticos do que as colunas sobre culinária.
O termo “coxinha”, no contexto político, é usado para designar uma pessoa arrumadinha e conservadora. Ele passou a representar os manifestantes dos atos contra o Governo Dilma. São duas versões para essa associação. A primeira está relacionada aos policiais militares que estacionam seus carros em frente aos locais que comercializam coxinhas. A segunda relaciona-se aos homens ricos que utilizam bermudas mostrando as suas “coxinhas”.
No campo da culinária, a origem do salgado possui três explicações. No livro “Histórias e Receitas – Sabor, Tradição, Arte, Vida e Magia”, a autora Maria Nadir Cavazin afirma que a iguaria surgiu durante o período Imperial, no interior de São Paulo. A Princesa Isabel e o Conde D’Eu tinham um filho que morava na Fazenda Morro Azul, localizada em Limeira. O menino praticamente só comia coxas de frangos fritas, o que exigia uma grande quantidade dessa ave. Certa vez, a cozinheira percebeu que não havia número suficiente de frangos para o abate, resolveu então desfiar as carnes das aves disponíveis, dividindo-as em porções. Posteriormente, envolveu-as em uma massa feita de farinha de trigo, espetou cada porção em um osso de galinha e fritou. A segunda versão apóia-se no livro do chef Marie-Antoine Carême intitulado “L’Art de la Cuisine Française”, o qual afirma que esse quitute já existia na culinária francesa com o nome de croquettes de poulet (croquete de frango). A última explicação também remonta ao Brasil Império. Segundo Rogério da Silva Tjäder, autor do livro “Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança – A mãe dos brasileiros”, a coxinha surgiu quando o ainda príncipe D. Pedro de Alcântara chegou em casa e o frango frito havia acabado. A própria imperatriz teria ido para a cozinha, desfiado o peito de frango que sobrou e misturado o mesmo com uma massa de farinha de trigo. Depois modelou a massa em formato de pêra, espetou um osso e fritou.
O termo “mortadela”, dentro do contexto político, está associado ao lanche, geralmente pão com mortadela, que os militantes de esquerda pretensamente recebem nos atos pró-governo. O embutido, entretanto, originou-se em Bolonha, no ano de 1376. O alimento produzido com carne de bovinos, suínos e aves, além dos cubinhos de gordura, chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes italianos no início do século XX.
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quinta-feira, 2 de junho de 2016





* Texto originalmente publicado no Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá, maio de 2016.



Fonte: http://www.guiarioclaro.com.br/materia.htm?serial=151011337 (Baseada na Revolta Negra de Rio Claro em 1888).




A sociedade brasileira foi ensinada por décadas, na verdade, quase que por um século inteiro  que os negros e negras escravizadas foram libertados por uma ação bondosa da princesa Isabel. Assim, o 13 de maio de 1888 e aquilo que representou, a libertação do povo negro, só teria se dado graças a um surto de benevolência do Império (sustentado por décadas pelo suor e sangue daqueles) e das elites brasileiras. Para que houvesse tal desfecho, os próprios "escravos" teriam contribuído nada ou quase nada. Só lhes restando festejar a data e enaltecer pelo feito a “Princesa Redentora”. Nada mais falso.



Pesquisas recentes do campo da História do Brasil têm demonstrado que as lutas efetuadas pelo povo negro cumpriram papel importantíssimo no movimento de derrubada do regime escravocrata. Longe de terem assistido a tudo passivamente, como se apenas lhes restassem torcer pelo sucesso das lutas abolicionistas promovidas – em nome deles – por “homens livres” membros da elite branca, essas pessoas lutaram e sacudiram com o regime, e muito.


Em que pese as limitações e intensa opressão gerada pela condição escrava imposta pelo sistema da época, aqueles homens e mulheres foram agentes de sua própria história, seja fugindo, constituindo quilombos, boicotando ou sabotando a produção, recorrendo à Justiça. Ou seja, se rebelando de diversas maneiras contra aquela condição indigna.

Mas é certo também que tais atos de rebeldia se adensaram exatamente na década de 1880, o que explica em boa medida que a Abolição tenha se dado nesse período. A pressão exercida por aquele(a)s agentes tornava insuportável a manutenção daquele “odioso sistema”.

Foram, felizmente, anos difíceis para os “Senhores de terra e de gente”. Em boa parte do Brasil. Do Rio de Janeiro. Em Jacarepaguá. Ali teve luta, sim. Intensa e vitoriosa. Mais precisamente nas terras do Engenho Novo, nas terras onde hoje funciona a Colônia Juliano Moreira.

Os Arcos da Juliano Moreira


Em 20 de dezembro de 1887, os trabalhadores escravizados dessa fazenda fizeram greve. Isso mesmo: greve! Motivo: estavam fartos de tantos maus-tratos. Assim cruzaram os braços, “visto lhes ser dada ração dobrada de açoites e muito minguada de alimentação”. E prossegue o Diário do Commércio (09/01/1888, p. 3) – jornal de onde extraímos a notícia desse magnífico evento: a greve foi levada por aqueles trabalhadores até o dia 29 daquele mês. E foi de tal vigor, que o “Comendador-proprietário” teve que fugir, até porque, diante de tanta afronta, acabou perdendo “amor aos belos ares da fazenda”.


Sede da antiga fazenda do Engenho Novo. Aqui se escondeu o comendador quando da eclosão da revolta.....
Fonte: http://portaldoarruda.blogspot.com.br/2011/01/juliano-moreira-o-pai-da-psiquiatria.html


Contudo, confirmando a sua índole covarde, o mesmo, durante a fuga, acionou a polícia, “solicitando força para prender dois dos revoltados”.  E então, o comendador-fujão teve que engolir outro revés: a força policial se negou a realizar a repressão desse movimento. Escreveu o Diário: “as praças recusaram-se desta vez ao mister de capitães de matto”.  

Vista do Morro Dois Irmãos, da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/10949077





Vista aérea da Colônia Juliano Moreira.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=119896906


Os acontecimentos ocorridos nas terras do Engenho Novo (atual Colônia Juliano Moreira) são emblemáticos: a luta dos escravos era imparável. Ninguém podia mais conter, nem os “Senhores” da elite, mesmo com toda sua empáfia, barbárie, violência e poder. O sistema estava tão desgastado e carcomido, quem nem mesmo a polícia lhe reconhecia legitimidade. Nem ela!

Que acontecimentos. Eles foram, digo, são inspiradores.




Leonardo Soares dos Santos
Pesquisador do IHBAJA e professor de História da UFF (Campos)







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