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sexta-feira, 21 de março de 2014

Atividade Cultural Quilombola na Comunidade do Alto Camorim, em Jacarepaguá - 23/03/2014




 

No próximo domingo, 23 de março, moradores da comunidade do Alto Camorim, em Jacarepaguá, com apoio da Rede Carioca de Agrcultura Urbana, realizarão uma atividade de inestimável valor histórico-cultural para a região da Baixada de Jacarepaguá como um todo, e em particular, para todas as comunidades afrodescendentes do Rio de Janeiro e Brasil. 

A atividade tem como objetivo dar visibilidade às lutas atuais e históricas da comunidade do Alto Camorim, pois há dez os moradores pleiteiam, através de processo no INCRA, para que a instituição reconheça a comunidade enquanto descendente de Quilombo. Contando com alguns apoios e parcerias locais, entre elas o Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá (IHBAJA) e o Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá (JAAJ), os organizadores do evento oferecem na programação inúmeras atividades ao longo de todo o dia. Confira abaixo a programação completa!

Leia também, abaixo da programação do evento cultural, um  texto falando do histórico quilombola no Alto Camorim e das lutas atuais da comunidade. Elaborado por Maraci Soares, moradora do Alto Camorim e liderança histórica de Jacarepaguá, o texto também possui contribuição de Renato Dória, morador de Jacarepaguá há mais de 30 anos e militante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepáguá. Conifra!


PROGRAMAÇÃO DA ATIVIDADE

8h - 9:30h: Acolhimento dos participantes e café da manhã agroecológico com comidas oferecidas pelos lavradores da Agrovargem, de Vargem Grande.

9:30h - 10h: Abertura - A luta pelo reconhecimento da Comunidade do Alto Camorim enquanto descendente Quilombola - com Maraci Soares, representante da comunidade do Alto Camorim

10h - 10:30h: Nas Trilhas da Resistência - Bate-papo sobre História de Jacarepaguá a partir das lutas sociais: da resistência dos escravos quilombolas no período colonial até as lutas atuais dos moradores de favelas - com Renato Dória, representante do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá e morador de Jacarepaguá.
 
10:30h - 13h: Atividades Diversas
 
Atividade Opcional I: Missa e visita ao quintal do Seu Sebastião (agricultor local)
Atividade Opcional II: Caminhada no Parque Estadual da Pedra Branca com visita à cachoeira do véu da noiva. Obs: a trilha é de nível baixo de dificuldade.
Atividade Opcional III: Ciranda o Erê

13h: Almoço - Feijoada tradicional

14h: Atividades Culturais diversas: Hip-Hop da melhor qualidade - com Us Neguin Q Não Se Calam.

Roda de Capoeira tradicional, Graffiti em tela


17h: Enceramento.

Como chegar:

Pegar qualquer condução que vá pelo menos até o Centro de Convenções Riocentro pela Estrada dos Bandeirantes.
Seguindo pela Estrada dos Bandeirantes sentido Vargem Grande, ficar atento às seguintes referencias, pela ordem: Supermercado Mundial da Curicica, Projac e Adega Vovô Tino.
Descer no ponto de ônibus que fica em frente à Cobra Tecnologia (pertence ao Banco do Brasil) situado na esquina da estrada dos Bandeirantes com a estrada do Camorim.
Entrar na estrada do Camorim e seguir até o final, onde fica o ponto final das kombis, na Praça da Igreja São Gonçalo de Amarante.
Pronto, chegou! A atividade será no espaço da Igrejinha.

Conduções que seguem pela Estrada dos Bandeirantes:

Do centro do Rio: 368 (via Serra Grajaú-Jacarepaguá) e 348 (via Linha Amarela).

De Madureira e Cascadura: 747, 749, 758, 757.

Da zona sul: 332. Ou pegar qualquer ônibus até o Downtown, Barrashopping ou Alvorada e pegar outro ônibus: 832, 831, 806 (se informem antes).

Demais: 810, vans e Kombis pra o Camorim, Varem Grande e Recreio dos Bandeirantes. Observação: vans e kombis que fazem a linha do Camorim é o transporte que deixa em frente à atividade. É a melhor opção pra quem vem a pé.


 
Destruição ambiental e a luta Quilombola no Alto Camorim

Tivemos que assitir a deburrada de árvores centenárias sendo executada pelo poder financeiro através de acordos com agentes do governo. Os acadêmicos debatem e argumentam que tudo está dentro da legalidade, endossando a prática governamental e propondo como solução e compensação o reflorestamento. estamos cansados dessas histórias! Somos sbestimados e excluídos. Os moradores do Alto Camorim são nativos nestas terras, somos os verdadeiros ambientalistas que vivem na prática uma relação harmoniosa com anatureza e sentimos na pele o impacto ambiental. Não vivemos só de teorias.

As terras do Alto Camorim constitui um Sítio Arquológico de um Quilombo histórico, um dos primeiros a surgir no Rio de Janeiro durante a colonização portuguesa. Historiadores contam que os primeiros escravos africanos chegaram à cidasde do Rio de Janeiro no ano de 1614, para trabalhar sob a domimnação dos primeiros semeiros e proprietários de engenho. Mas a resistência escrava não tardou e as primeiras notícias sobre a existência de quilombos no Rio de Janeiro são das terras de Jacarepaguá: foi o Quilombo do Camorim, que data do ano de 1625, apenas 11 anos após a chegado dos africanos escravidos e 90 anos após o início da invasão das terras indígenas americanas pelos portuguesas.

Aqui, na comunidade descendente quilombola do Alto Camorim, existem inúmeras provas desta ancestralidade: "a casa Grande dos escravos", a Pedra do Quilombo e os achados arqueológicos de uma escavação realizada no início da década de 2000, quando foram encontrados utensílios de diferentes épocas e ossadas de seres humanos que indicam algumas serem de escravos. Estes achados apontam para uma possível existência de cemitério de escrvaos nas proximidades da Igreja, no coração da nossa terra. Tudo isto reforça a ancestralidade dos nossos descendetes nestas terras.



À direita, exemplo de ossada de escravos desenterrada após escavações. À esquerda, ilustração exemplifica a forma como eram dispostos os corpos dos escravos ao serem enterrados. Chama atenção a quantidade de ossos, o que indica que os escravos eram enterrados em conjunto, cf a ilustração sugere. É provável que a ossada encontrada do lado de fora da Igreja São Gonçalo de Amarante, no Camorim, no início da década de 2000 durante obras, tenha semelhança com a foto acima.

A geografia das terras do Alto Camorim possui a mais notável herança de todas as tradições de resistência quilombola: para se defender e combater o intento de dominação escravista dos portugueses senhores de engenho, cafeicultores e dos capitães do mato, os negros que ousavam resisistir à escravização construíam os seus mocambos, para os portugueses quilombos, sempre em terras altas, o que facilitava a defesa e a fuga, caso as forças de repressão os encontrassem. Portanto, Alto Camorim concentra todas as provas de comunidade remanescente de Quilombo.

Há dez anos a comunidade vem pleiteando um espaço para desenvolvimento cultural das nossas tradições exatamente onde ocorreu a devastação das árvores pelas empreiteiras. Percebemos que a derrubada parou bem próximo à Igreja São Gonçalo de Amarante. No entanto, a "sobra" de espaço que poderia ser cedido (devolvido?) para a comunidade, foi-nos informamdo que seria reservado para a Prefeitura. Recentemente o Sr. Prefeito solicitou o envio para o seu gabinete da documentação do pleito e o projeto do Desenvolvimento Cultural Quilombola. Todos os documentos e fotos foram enviados, entretanto, até o momento não nos foi respondido. Estamos ainda no aguardo de uma resposta.

Assim como no passado caolonial, o quilombo do Camorim segue ainda hoje na luta pela preservação da natureza e da identidade cultural que os portugueses colonizadores e os governantes atuais insistem em desrespeitar. Viva a luta Quilombola! Viva o Quilombo do Alto Camorim!

Maraci Soares, Alto Camorim (outros moradores também colaboraram)
Renato Dória, Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá