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domingo, 3 de janeiro de 2021

A Escola 7-19: ter ou não ter uma escola dentro da Colônia Juliano Moreira.

 


Durante muito tempo perguntou-se se a loucura era “contagiosa”. Estar próximo de loucos podia prejudicar a mente sadia? Na história da psiquiatria brasileira, alguns médicos defenderam a ideia de que, ao invés de se isolar o doente, o ideal seria reinseri-lo na sociedade. A Colônia Juliano Moreira nasceu com esta ideia.

Fundada em 1924, a Colônia Juliano Moreira, tinha como base o convívio controlado dos pacientes em um ambiente social sadio. Para isso foi criada uma vila de moradores, isto é, aqueles considerados “bons funcionários” e suas famílias eram convidados a residirem dentro da propriedade, ganhando terrenos para construírem suas casas. Esse foi o embrião do atual bairro Colônia. Com o tempo essa vila de moradores cresceu e começou a reivindicar melhorias no transporte, luz urbana, calçamento e estradas, parque, creche e escola. Parte dessas reivindicações foram atendidas pelo Governo Federal. Uma delas foi a criação da Escola 7-19, em um pavilhão, para atendimento dos filhos desses funcionários.

A Escola 7-19, hoje (Escola Municipal Juliano Moreira) encontra-se em outro prédio, logo na entrada da Colônia, no antigo pavilhão de atendimento a crianças e adolescentes do sexo masculino. Mas em 1943, o pavilhão utilizado, apresentava sinais de desgaste, além de um número de alunos que não pertencia à comunidade interna da Colônia. A escola cresceu e ganhou mais professoras. De fato, Jacarepaguá, era bastante deficiente em escolas. Segundo uma estimativa da época, eram necessárias 35 escolas para suprir a população da região. Mas qual a particularidade da Escola 7-19? Ela fez parte de um movimento social dentro da Colônia. Os hospitais psiquiátricos possuem como característica a “morte social” do paciente. Eles perdem suas famílias, amigos e identidades; passam a ser identificados e rotulados por números e diagnósticos. Para reinseri-los na sociedade, os dirigentes da Colônia criaram essa vila, onde os pacientes eram recebidos por famílias que conheciam seus temperamentos, gostos, fobias, manias, diagnósticos e histórias de vida.

Para os moradores, a existência dessa escola era vista por uns como problemática e por outros como justificável. Na Mesa Redonda  promovida pelo Jornal “Diário de Notícias” em 1943 e com a participação de personagens de destaque do Rio de Janeiro, a grande discussão girava na inconveniência da localização da 7-19. A Sra. Dyla Sá (educadora) relatou que uma das professoras ficou doente diante das cenas que presenciou. Ela se posicionou contra a existência dessa escola. O sr. Válter Rocha Miranda alertava que a escola servia apenas para funcionários, mas o Sr. Edmundo Melo declarava que a maior parte dos alunos não eram filhos de funcionários. Um funcionário da Colônia, de nome Bento Monteiro, afirmou que se os médicos não viam inconveniências na existência da escola porque eles veriam? A reportagem mostra como era a visão da loucura e a relação entre psiquiatras e moradores. Nem sempre a decisão médica era vista como benéfica. Como poderiam alunos inocentes conviver com loucos? Deveriam transferir a escola de local?

Outros problemas foram levantados: a falta de condução para as professoras, o funcionamento da segunda série escolar em um galpão improvisado, e a promessa de novas instalações para a escola. Mas a questão da Escola 7-19 estar dentro da Colônia foi muito forte. Diversas opiniões foram ouvidas, sem se chegar à um consenso. Ainda que tenha mudado para outro prédio, mais adequado às suas funções, a Escola 7-19 atravessou as décadas e deu origem à Escola Juliano Moreira. Passou a atender oficialmente alunos de fora da Colônia. Com a chegada da década de 1970 e a Reforma Psiquiátrica, algumas das antigas instalações da Colônia foram sendo desativadas e a internação passou a diminuir. O número de moradores aumentou, passando seus filhos a serem alunos da antiga Escola 7-19, outrora pioneira na promessa do tratamento da doença pelo convívio com as “boas famílias” da Colônia Juliano Moreira.

                                                                                                                           Janis Cassilia

                                                                                                                                                         Professora e pesquisadora do IHBAJA